Ao longo dos últimos meses, a PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais), ONG que conta com mais de dois milhões e colaboradores, tem realizado protestos a respeito contra o uso do couro. Em resposta, fabricantes de peças com o material defendem o uso do couro animal e alertam que o couro sintético dura menos, e utiliza-se de materiais plásticos que demoram anos para se decompor na natureza produzindo dejetos tóxicos.
A Agência UVA entrevistou a professora, Mestre em Ciências do Meio Ambiente e graduada no Superior de Moda Lucília Ramos e a Doutora em Design, graduada em Tecnologia de Produção de Vestuário, Maria Eloisa a respeito de entender, as vantagens e desvantagens de cada opção.



O couro é considerado um material nobre pela sua resistência e longevidade, sendo utilizado por milhares de anos. Por ser um subproduto da indústria da carne, o couro animal é normalmente extraído de vacas, e além do sacrifício animal, diversos dejetos dos processos de fabricação e conservação são jogados na natureza. Já em relação ao couro sintético, diversos aspectos precisam ser considerados. A matéria-prima é derivada de “polímeros termorrígidos”, ou seja, o material não pode ser derretido e fundido novamente para que a reciclagem seja feita.
Para Maria Eloisa, não há forma de usar o couro sem maltratar os animais. Para ela, a solução seria achar novos meios de consumo, investindo em pesquisas de novos materiais que possam oferecer uma atuação semelhante a do couro, porém, com processos amigáveis ao meio ambiente e isento de resíduos perigosos em todo o processo, desde a produção até o descarte.
“Podemos mudar a perspectiva e pensar como uma alternativa, no lugar da ideia de substituição. Nos últimos anos temos visto avanços relacionados ao desenvolvimento de novos têxteis. Para isso, a busca de materiais alternativos de fontes não convencionais têm sido incentivada. Essas inovações representam o potencial em estabelecer redes de colaboração entre as indústrias. Contudo, ainda há um longo caminho a ser percorrido”, afirma a Doutora.
Para Lucília Ramos, o couro ecológico poderia ser a melhor alternativa de substituição, esse material causa menos impactos, pois sua matéria-prima pode ser abacaxi, cactos, cogumelos entre outros compostos.
Um exemplo da aplicação desse material seria como na edição do iF Design Talent Award 2021, importante premiação de inovações estudantis, onde os alunos Gislaine Lau e Felipe de Carvalho Ishiy, da Universidade Federal do Paraná, únicos vencedores da América Latina, apresentaram seu biofilme similar ao couro feito de um substrato bacteriano a partir da Kombucha, uma bebida a base de chá.


Apesar de muitas marcas já terem banido o uso do couro, ou implementado técnicas de reciclagem desse material, esse artigo continua sendo uma das matérias-primas mais utilizadas da indústria, e segundo os representantes pecuários brasileiros, o couro animal é o meio mais sustentável de usar o material, o qual é retirado através da indústria da carne, assim como os ossos que seriam reaproveitados, a carne a ser consumida, o couro seria revertido em curtumes.
“Os animais são criados por causa do alimento, da sua carne, para saciar a produção. Nós damos destino a um produto que iria apodrecer e que teria que ser enterrado”, explica José Bello, presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) ao G1.
Segundo O Globo, no Brasil, existem mais rebanhos de boi do que habitantes, e o setor chega a mobilizar cerca de R$8 bilhões por ano. As indústrias brasileiras reportam em seus dados que cerca de 1,5 milhões de toneladas de couro são retiradas do abate de animais, o que resultaria em cerca de 40 milhões de peças de couro. Por outro lado, as professoras explicam que ainda sim, as águas residuais saturadas de elementos como o “cromo”, que como é altamente solúvel, favoreceria a contaminação de lençóis freáticos, por exemplo.
A cadeia produtiva da moda e vestuário é altamente fragmentada, tornando a rastreabilidade da origem de um material um grande desafio. Pesquisar sobre o posicionamento da marca, suas práticas e a relação com fornecedores e funcionários, é fundamental para entender a sua visão e valores. Também vale se atentar a empresas com certificações sustentáveis, que atestam boas práticas ambientais.
Foto de capa: Their Turn
Reportagem por Camila Teixeira, com edição de texto por João Agner
LEIA TAMBÉM: Com a saída de Sarah Burton, direções criativas do grupo Kering são compostas apenas por homens brancos
LEIA TAMBÉM: O que a Chloé nos ensina sobre a importância do samba para a moda

Pingback: CCXP23: Elenco de “Duna 2” traz exibição exclusiva de prévia do filme no Brasil | Agência UVA
Pingback: Alessandro Michele é apresentado como novo diretor criativo da Valentino | Agência UVA
Pingback: Como é um TCC do curso de Moda da UVA | Agência UVA
Pingback: 5 marcas nacionais para você valorizar a moda brasileira | Agência UVA