No último dia 28 de setembro, durante a Paris Fashion Week, a grife de roupas e acessórios francesa Chloé desfilou sua nova coleção de Primavera 2024 em um show que marcou a despedida da designer uruguaia Gabriela Hearst da direção criativa da marca, mas não foi só isso que a linda coleção mostrou.
A delegação da escola de samba da Mangueira foi a atração do show, com sua bateria e passistas entregando uma performance alegre e com muita representatividade brasileira em uma das semanas de moda mais importantes do mundo.
Annik Salmon Carneiro, carnavalesca da escola de samba, conta como foi para todos os envolvidos receber a oportunidade de estar neste grande show:
“Infelizmente eu e Guilherme (carnavalesco da Mangueira) não podemos estar presentes. Acompanhamos todo o processo com o produtor, a estilista, fizemos uma parceria e demos todas as informações que eles precisavam a respeito da Mangueira, das cores, da música e das roupas”, conta Annik.
Annik explica que a parceria foi toda feita pelo Brasil, e quem criou todas as peças foi Gabriela Hearst. No final, eles apenas deram um retorno a equipe da Chloé e orientações sobre a atmosfera da Mangueira. Por exemplo, a roupa de uma passista deve ser mais curta para explorar as pernas e o samba no pé. A porta bandeira deve que ser uma saia godê para se destacar na hora de seus giros.

Não é de hoje que a moda está presente em tudo e nunca foi apenas sobre se vestir bem ou não. O professor do curso de Moda da Universidade Veiga de Almeida Flávio Bragança, conta que poucas marcas tiveram essa influência, citando a carioca Complexo B, que colocou Mart’nália numa roda de samba na passarela. “A história da moda no Brasil sempre foi muito referente do que vêm da Europa e dos EUA e esquece de olhar para sua identidade cultural, como o samba”, conta o professor.
Flávio ainda questiona que apenas marcas internacionais buscam inspirações no Brasil, enquanto nosso próprio país ignora nossas raízes.
“A conexão do samba com a roupa pode vir de muitas maneiras, no ritmo das estampas, no balanço dos tecidos, no gingado da modelagem que liberta o corpo para o movimento. E samba também rima com elegância, basta olhar para a leveza dos passos dos sambistas. É importante também promover o encontro da moda com temas relevantes ao samba, como por exemplo buscar inspiração no sambista e artista visual Heitor dos Prazeres, que inclusive criava suas próprias roupas extraordinariamente bordadas. Que bela coleção seria!”, reflete o professor.

A carnavalesca Annik também afirma que tem sua pasta de inspirações em designers e muitos artistas de moda, que acabam a ajudando em alguns determinados pontos para a construção das fantasias, mas sempre respeitando o samba enredo e as características da Mangueira.
O desfile completo da Chloé pode ser conferido no Instagram da marca.
Reportagem de Cássia Verly, com edição de texto de João Agner
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Cássia, parabéns pela matéria, gostei muito da sua provocação que nos fez refletir sobre o assunto.
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