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Horário de verão: volta em 2023 é descartada e cidadãos tem opiniões diversas sobre o assunto

Estudantes e trabalhadores comentam diferentes pontos de vista sobre a medida

Nas últimas semanas, com a chegada da primavera, as discussões sobre a retomada do horário de verão passaram a ganhar força. A medida deixou de existir em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), e com a troca de autoridade em 2023, empresários dos setores de turismo e serviços passaram a pressionar o presidente Lula (PT) para retornar com o adiantamento dos relógios. No entanto, a avaliação técnica do ministério de Minas e Energias mostra que, no momento, não existe necessidade de retorno.

A Agência UVA conversou com estudantes e trabalhadores para saber o que a população pensa a respeito do horário de verão. A maioria dos entrevistados se mostrou contra a volta da medida e apontaram diversos fatores que ajudam a explicar seus posicionamentos.

O objetivo do horário de verão é aproveitar o maior tempo possível de luz natural durante a época mais quente do ano, entre a primavera e o verão, e diminuir o uso de energia elétrica no horário de pico. Além disso, ainda é possível encontrar outro impacto positivo na economia, como o funcionamento de comércios por mais tempo.

Marcos Lobão, 47 anos, é desenvolver de web e se posiciona contra a volta da medida. Para ele a economia energética promovida pelo horário de verão não é grande o suficiente para compensar o transtorno causado na população. Ainda segundo o entrevistado, um investimento em outras fontes energéticas é uma boa alternativa.

“Acho que a economia gerada pela horário de verão é muito pequena se comparada ao transtorno que é gerado a toda a população com essa mudança de horário.
Por esse motivo, me posiciono contra o horário de verão. Uma alternativa inteligente seria o estímulo a novos métodos de geração de energia limpa e mais baratas como energias eólica e solar”, conta Marcos.

Instaurado no Brasil pela primeira vez em 1931, por decreto presidencial de Getúlio Vargas, o horário de verão tinha duração de 5 meses abrangendo todo o território nacional. No entanto, com o tempo, a medida passou por diversas alterações até parar de ser utilizada em 1967. Em 1985, novamente por decreto presidencial, José Sarney restituiu o horário de verão como uma das ações para lutar contra o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas nacionais. Desde então, a prática passou a ser repetida ano após ano, sofrendo pequenas alterações com relação aos estados e regiões participantes.

No fim de 2018, o DataSenado realizou uma pesquisa que envolveu 12.970 internautas para saber o nível de aprovação do horário de verão no país. O resultado apontou um certo equilíbrio, mas 55% dos entrevistados afirmaram que eram contra a medida, enquanto 44% eram a favor e 1% não soube responder. Entre os que eram contra, 90% acreditava que não haveria alteração no consumo de energia elétrica com o adiantamento dos relógios.

Compartilhando a mesma opinião que a maior parte dos entrevistados pela pesquisa, Letícia Veroneses, de 18 anos, é contra a medida. Para a estudante de Matemática na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), quando o horário de verão entrava em vigor, existia uma dificuldade de adaptação, o que gerava cansaço e atrapalhava a sua produtividade no dia a dia.

“Sou contra. O horário de verão atrapalhava o meu desempenho na escola durante os primeiros dias de adaptação ao adiantamento dos relógios. Todas as manhãs eu acordava menos disposta e bem cansada, fazendo com que eu fosse muito pouco produtiva”, acrescenta a estudante.

Em 2019, quando Jair Bolsonaro (PL) suspendeu o horário de verão, o presidente argumentou que tomou a decisão com base em recomendação do ministério de Minas e Energia (MME). Ricardo Cyrino, secretário de energia elétrica do MME na época, afirmou que o horário de verão foi adotado em 1985 pois o pico de utilização de energia elétrica era por volta de 18h, o que viabilizava o projeto, mas por conta da evolução da tecnologia, nos dias atuais, o pico passou a ser às 15h e a medida se tornou desnecessária, podendo ser cancelada.

“Com a evolução da tecnologia, iluminação mais eficiente, entrada de ar-condicionado, que deslocou o pico de consumo para às 15 horas, e também a substituição de chuveiros elétricos [por aquecimento solar, por exemplo], que coincidia com a iluminação pública às 18 horas, deixamos de ter a economia de energia que havia no passado e o benefício do alívio no horário de ponta, às 18 horas”, afirmou o secretário.

Beatriz Gomes, de 22 anos, cursa História na UERJ e disse ser a favor do adiantamento dos relógios. Para ela, ter mais tempo de luz do dia ajuda as pessoas a espairecer em meio ao cotidiano cansativo de trabalho.

“Sou a favor. Economiza energia, e além disso, dá oportunidade das pessoas terem mais tempo de lazer em convívio social depois de uma rotina diária cansativa e desgastante”, conta Beatriz.

Após vencer as eleições presidenciais de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), abriu uma enquete em sua página oficial do Twitter para saber, de maneira informal, o posicionamento de seus seguidores acerca da volta do horário de verão. O resultado foi conclusivo, gerando 2 milhões de votos e 66% de aprovação à volta da política.

Antônio Marcos, de 19 anos, se mostra indeciso em relação a volta da medida. Para o estudante de análise e desenvolvimento de sistemas, a economia de energia é importante, mas não se pode esquecer dos problemas causados ao relógio biológico das pessoas.

“Não consigo opinar se sou contra ou a favor. Acredito que a medida é capaz de ajudar na economia de energia, e isso é muito benéfico. Mas por outro lado, também gera um caos no relógio biológico das pessoas, o que é um problema enorme, pois, em tese, deixa o dia das pessoas menos produtivo”, afirma Antônio.

Já Larissa Freitas, influenciadora digital de 18 anos, se posiciona de maneira contrária a retomada do horário de verão. Segundo ela, um grande problema do adiantamento dos relógios é que muitas pessoa têm que sair para trabalhar e estudar com o céu ainda escuro.

“Sou contra. Acredito que o horário de verão, além de atrapalhar o relógio biológico, aumenta o perigo para aqueles que saem muito cedo de casa para trabalhar ou para estudar, deixando principalmente as mulheres mais expostas à violência por saírem ainda com o céu escuro”, argumentou a influenciadora.

Representantes dos setores de Turismo e Serviços, vem fazendo pressão para que o horário de verão seja restabelecido. Em fevereiro, uma reunião entre, o governo federal, a Confederação Nacional do Turismo (CNTur), e a Federação das Empresas de Hospedagem, Gastronomia, Entretenimento e Lazer do Paraná (Feturismo), foi realizada para tratar de uma possível volta da medida. Os empresários do setor turístico alegam que o horário de verão traz benefícios importantes, como a economia de energia.

Em setembro, foi a vez da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) anunciar que enviou uma carta ao presidente Lula, solicitando o retorno da medida. A Abrasel informa no comunicado, que o horário de verão gera impacto direto no faturamento de bares e restaurantes com uma alta que pode chegar de 10% a 15%.

No dia 29 de setembro, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o horário de verão só será adotado no país em caso de grande necessidade. A declaração, mesmo sem uma resposta objetiva, dá a entender que o ministério entende que não é necessário a adoção da prática em 2023.

“É importante que nós, o tempo todo, nos mantenhamos precavidos sobre a afirmação de que vai ou não vai acontecer. O horário de verão ele só acontecerá, é evidente, se tiver sinais e evidências de uma necessidade de segurança de suprimento do setor energético brasileiro. Por enquanto, não tem sinal nenhum nesse sentido. Nós estamos com nossos reservatórios no melhor momento dos últimos 10 anos”, destacou o ministro.

A decisão sobre a volta do horário de verão, não cabe apenas ao Ministério de Minas e Energia, que busca levar ao presidente Lula um parecer técnico da situação e aconselhá-lo em relação ao assunto. Neste sentido, por conta da pressão política exercida sobre o chefe do executivo, liderada pelos setores de turismo e serviços, não é possível afirmar até quando a medida seguirá sendo descartada.

Foto: Divulgação/Agência Brasil

Reportagem de Gabriel Caetano, com edição de texto de Gabriel Ribeiro

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