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“Escrever significa tentar encontrar minha voz”, afirma Lázaro Ramos em palestra na Bienal do Livro

“Contadores de Histórias” foi tema de bate papo com Neal Shusterman e Lázaro Ramos na 40ª edição da Bienal do Livro.

A ficção tem a função de debater os medos e as esperanças da nossa cultura. Pensando nisso, Lázaro Ramos, autor de “Você não é invisível”, e Neal Shusterman, autor de “O ceifador”, se reuniram em um bate papo com plateia lotada no Pavilhão Azul da Bienal do Livro, abordando a importância de contar histórias ficcionais que carreguem a realidade da população que vivemos. A conversa foi mediada por Pétala Sousa e Isa Sousa.

Lázaro Ramos é ator, apresentador, dublador, cineasta e também escritor. Sua primeira aposta na literatura infantil brasileira foi aos 21 anos com “Paparutas”. Lázaro conta que começou a escrever na madrugada de insônia quando ficou desempregado.

“Comecei a escrever para responder as ausências, mas não achava que minha escrita tinha valor. Quando fiquei desempregado, me senti perdido nas minhas escolhas, até que criei coragem de mostrar “Paparutas”, que virou uma peça de teatro e ficou cartaz por dois anos”, conta o escritor.

Também muito jovem, Neal Shusterman se sentiu inspirado a escrever. O autor e roteirista americano multipremiado relata que na adolescência haviam momentos em que seus amigos amigos paravam para ouvir suas histórias, incentivando Neal a escrever sobre elas. Hoje, mesmo adulto, o escritor conta histórias para jovens e adolescentes, pretendendo inspirá-los como fazia com seus amigos, mas também afirma que escreve para adultos que precisam resgatar o seu adolescente interior. “Eu não escrevo só histórias para adolescentes, eu quero escrever histórias que possam ser lidas e apreciadas por adultos também para o adolescente que ainda está dentro de nós”, afirma Neal.

Lázaro Ramos e Neal Shusterman abordam vivências pessoais em seus livros de ficção (Foto: Reprodução/Mariana Motta)

Em suas utopias, Lázaro e Neal abordam protagonistas falhos, humanizando suas ações e fugindo do padrão heroico que constantemente é feito para o personagem principal. Lázaro Ramos compartilha seus relatos pessoais em “Você não é invisível”, abordando suas próprias histórias, erros e acertos da adolescência em seu personagem Carlos.

“É importante que os jovens vejam esses personagens como pessoas imperfeitas e vejam a si mesmos nesses personagens. Muitos adolescentes passam pela primeira paixão e pela primeira mentira. São experiências que nem sempre acertamos e eles precisam ver isso nas histórias também”, conta Lázaro.

Além dos protagonistas falhos, Neal queria que seus livros tivessem um segmento filosófico ao invés de apenas contar histórias. O autor explorou as súplicas da mentalidade do ser humano, trazendo para os personagens a busca por seu lugar no mundo, questionando seu propósito. Há também sofrimento do protagonista perante a humanidade porque não conseguia salvar nós de nós mesmos.

“Senti que isso foi muito importante para fundamentar o livro. Essa não é apenas uma história sobre psicopatas correndo por aí matando, e sim sobre as implicações morais do que eles fizeram. Então acho que as súplicas dos diários e os pensamentos do psicopatas são muito importantes para gerar o tipo de sentimento que eu queria para esse livro,” conta Neal sobre ‘O ceifador’.

Toda ficção tem o papel de entender quem nós somos e qual nosso papel na sociedade, é o jeito de criar conexões entre todos nós e nos ajuda a entender outros pontos de si mesmo. Segundo Lázaro Ramos, sua experiência como leitor foi tardia e, hoje, não se sente só porque carrega sempre um livro.

“Escrever significa tentar encontrar minha voz. Celebro muito esse movimento atual que estamos tendo com a literatura porque para mim o livro é um complemento a viver”, afirma Lázaro.

Foto de capa: Mariana Motta/Agência UVA

Reportagem de Mariana Motta, com edição de texto de João Agner

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