Comportamento Crônica

Dobby ama meias, e eu também

Na sua crônica de estreia, a repórter Karla Maia fala sobre luto, amizade e como tudo isso se relaciona com a saga Harry Potter.

Por Karla Maia

Eu amo Harry Potter, sim, mesmo com todas as problemáticas que posso discutir em outro texto. Assim como eu, milhares de outros jovens também amam esse saga e cresceram com ela de alguma maneira. Talvez a única das minhas amigas que se interessava por isso e por todo esse universo de livros adolescentes era a Fernanda. Tanto que ela me deu uma meia com o tema de presente de aniversário uma vez.

A meia tem duas cores, ela é super estilosa e adoro usar com o meu All-Star, bem diferente das minhas meias brancas, totalmente sem graça. Sempre lembrava que foi ela que me deu aquele presente inusitado – uma meia azul e vermelha – como o logo da saga desenhado nela. Engraçado que eu tenho uma memória ruim e não costumo lembrar dessas coisas, mas sempre que vestia a meia, sabia quem tinha me presenteado.

Sabe quem amava meias? Dobby, o elfo doméstico. Um grande amigo de Harry Potter que esteve com ele pelos sete livros e filmes. Em resumo, essas criaturas eram submetidas a um sistema de escravidão, e o ato que os libertava era dar uma peça de roupa do mestre para eles. Harry, num plano para livrar o elfo desse regime, coloca uma de suas meias num livro que o antigo mestre, Lucius Malfoy, entrega para Dobby no final do segundo livro , assim oficializando sua liberdade.

Harry Potter é uma história sobre amizade. O jovem construiu muitos laços duradouros, como seu icônico trio composto por Hermione e Rony, além de ser protegido por professores e outros amigos de seus falecidos pais, já que sua família biológica não lhe dava muita atenção ou demonstrações de carinho. Dobby era extremamente leal com o Harry, e talvez tenha sido o primeiro amigo de verdade do pequeno elfo doméstico, alguém que se importava e queria o bem dele.

Também aprendi isso com a Fernanda, uma das minhas melhores e mais antigas amizades. Ela era aquele tipo de pessoa que sempre tinha um conselho ou uma palavra boa ou engraçada pra te alegrar, que te entendia e sabia me ler quando eu não estava muito legal e sempre disposta a me ajudar. Fernanda me viu crescer, evoluir e com certeza me auxiliou a construir a pessoa que eu sou hoje, assim como o próprio personagem do Harry, pois suas histórias caminharam comigo por toda minha adolescência.

(Foto: Acervo Pessoal/Karla Maia)

Seus livros também me ensinaram sobre perdas de pessoas queridas, já que o personagem perde muitas pessoas ao longo da narrativa, inclusive, o Dobby. E eu perdi a Fernanda, e nem os dez anos que passei lendo Harry Potter conseguiram me ensinar a lidar a morte dela. Foi um baque e ainda é difícil de entender que ela se foi tão jovem e com tanta coisa para viver. 

Toda vez que visto minha meia do Harry, eu lembro dela. E percebo quantas coisas que eu perdi com a sua morte; os conselhos, os abraços, as risadas, as conversas sobre livros. Não perdi só a Fernanda, perdi todas essas coisas. Não vou ver mais Harry Potter da mesma forma, nem outras coisas que nós duas gostávamos, como Star Wars ou os filmes da Marvel. Tudo vai parecer mais vazio ou mais sem sentido.

Agora, escrevi e coloquei significado na coisa mais boba possível: uma meia, da mesma maneira que o inocente e alegre Dobby também fez quando recebeu a sua como o símbolo da sua liberdade. Tudo isso me ensinou uma coisa; por mais trágico que seja, nós precisamos nos agarrar nas pequenas coisas, em todas as conversas, nas risadas, e por quê não, nas brigas? Tudo isso significa algo, e faz muita falta.

O luto é um processo árduo e difícil de compreender, mas ainda tenho essa meia no armário, e agora ela tem um significado, uma história, e é um certo conforto no meu coração. Ela não é só uma meia, ela é a meia que uma das pessoas mais especiais que eu já conheci me deu. Ela é um presente. Uma demonstração de amor e de carinho da qual eu nunca vou esquecer.

Foto de capa: Divulgação/Warner Bros.

Crônica de Karla Maia, com edição de texto de João Agner

LEIA TAMBÉM: Você só tem que retornar ao oceano

LEIA TAMBÉM: Se acaso lhe faltar fé, faça uma oração a Pai Oxalá

8 comentários em “Dobby ama meias, e eu também

  1. Avatar de Larissa Martins
    Larissa Martins

    Que texto lindo, karla 💔 tenho certeza que a Fernanda está te olhando lá do céu!

  2. Avatar de Kaylaine Barroso
    Kaylaine Barroso

    Que texto lindo, amiga! A amizade de vocês duas sempre foi linda e era perceptível o carinho de ambas as partes! Tenho certeza que a Nanda vai te acompanhar para sempre. 🥹🤍

  3. Avatar de Marilande Carvalho Silva da costa
    Marilande Carvalho Silva da costa

    Ela amava vc meu amor, obrigada pela linda msg😭😭😭😭

  4. Avatar de Marilande Carvalho Silva da costa
    Marilande Carvalho Silva da costa

    Ela amava vc meu amor, obrigada pela linda msg😭😭😭😭

  5. Avatar de MARIA JOSE ALMEIDA DA COSTA
    MARIA JOSE ALMEIDA DA COSTA

    Minha sobrinha veio ao mundo para fazer feliz todos q passaram por sua vida, quem a conheceu não à esquece jamais. Sua importância é tao grande q se tornou eterna na vida de todos. Obrigada por essa homenagem, com certeza ela está muito feliz. Deus te abençõe🙌

  6. Avatar de Fernando Almeida

    Uma das coisas mais lindas que minha irmã fazia questão de ostentar em todos os seus aniversários, era a amizade que tinha/tem com todos aqueles que de alguma forma ajudaram a criar parte da personalidade forte e inabalável que ela tinha. Ela te presenteou, Karla e te “libertou” de um mundo sem ela, e mesmo que um dia você não tenha mais as suas meias especiais, ela (a Nanda) vai continuar sendo o seu verdadeiro e maior presente em sua memória!
    Obrigado em nome de toda a minha família por compartilhar seu amor e amizade por ela com todos nós. Eu consigo ver, mesmo com os olhos embaçados pelo choro, a vida da Nanda através de vc!

    Mas uma coisa é certa: de fato ela deve ter ficado bolada demais de vc ter comparado ela com o Dobby kkkk

    Nanda eterna!

  7. Avatar de Mariana Luiza

    Em lágrimas com esse post tão sensível.
    Transformar luto em arte é um raro dom, que você executou com perfeição.
    Muito sucesso em seu caminho, e muita luz pra sua amiga na espiritualidade.

  8. Pingback: O que a minha ‘lista de metas’ me ensinou sobre abraçar mudanças | Agência UVA

Deixar mensagem para MARIA JOSE ALMEIDA DA COSTA Cancelar resposta