Por Larissa Martins
No País das Maravilhas, Alice se sentia perdida. O gato sorridente disse a ela: “Para quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve.” No entanto, eu calculo a rota e repasso todas as minhas pegadas. A ponte foi rompida e me questiono se tomei a decisão correta.
Na mitologia grega, logo depois do nascimento de Ártemis, a deusa da caça segurou o deus do Sol em suas próprias mãos. Depois, ela, uma criança desarmada, foi até o rei dos deuses e exigiu um arco e flecha, pois escutava o eco das jovens mulheres implorando seu auxílio. Zeus reconheceu uma selvageria intrínseca que nenhum homem era capaz de domar. Assim como no mito, quero resgatar essa criança que ainda habita em mim. Essa história é um lembrete de que nós – mulheres – não nascemos domesticadas.
Estive em um casulo. Nada no mundo poderia me machucar, mas eu não conseguia crescer. Foram me dadas asas e, eu, pouco a pouco, aprendi a voar. Depois que alcancei voo, mirei os outros pássaros e perguntei: “O que você acha que eu devo fazer?” Indaguei todos ao meu redor, mas esqueci de perguntar a mim mesma: “Qual é o caminho que eu quero seguir?”

Decidi que eu quero escrever, mas isso não basta. Também quero encarar as ondas e aceitar o risco de que o mar pode me derrubar. Quero ser como ele: capaz de ser uma força destrutiva e oferecer calmaria ao mesmo tempo. Lutei muito pela minha paz. Foi preciso de um pouco de violência para voltar a ser gentil.
Ofegante, me retiro, e contemplo o Sol. Todo dia ele brilha, mesmo que tire um tempo para não aparecer, ele não descansa. Às vezes, você só tem que retornar ao oceano.
Não acredito em sereias, mas sei que sou uma.
Crônica de Larissa Martins, com edição de texto de João Agner
Foto de capa: Larissa Martins
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