Por Hunter
Nas últimas semanas tenho andado com uma botinha humilhante e enorme pelos lugares, e repetido essa história várias e várias vezes, mas sempre deixando de fora o fator principal; o culpado. Tudo começou num dia pleno de aula e acabou no mesmo lugar; no bar da esquina da faculdade. Um bar tão ocupado por mim e meus amigos que falta ter uma placa enorme guardando nosso lugar.
Bebida vai, bebida vem, amigos chegam e entre eles, alguém que tem o seu nome. Pra mim, já entorpecida e emocionada com os pagodes que minha amiga não parava de colocar na jukebox, esse foi o basta. Disse que deu a minha hora e saí de fininho, pra sentar no metrô, ver as estações passarem enquanto ouço aquela playlist que criei bem no fatídico dia em que terminamos. Que inferno, não é? As vezes sinto que ainda vivo no dia pós-término, como se você tivesse feito um estrago tão grande a ponto de ter se tornado o antagonista de todas as minhas histórias; entre elas, essa aqui.
Com o fone de ouvido tocando “Helipa” e as palavras de Yago Oproprio ecoando em minha cabeça (“O tempo passa e eu sinto o cheiro dela”), tive a brilhante ideia de descer a escada da passarela para pedir um Uber. E foi aí que meu saltinho mixuruca pisou numa poça, que eu rolei escada abaixo e que você, mais uma vez, estragou para sempre uma música que eu gosto, que nem fez com “Samba in Paris”. Porque se eu não estivesse aos prantos, com certeza teria visto a poça, e com certeza eu não ouviria essa música com umas tias de backing vocal (“Segura essa menina!”, “Alguém socorre essa menina”, “Quebrou o pé?”).
Nas semanas que decorreram, fiquei em repouso, talvez um pouco deprimida, e tive breves idas à faculdade, e a culpa é sua e de todas as catástrofes que você me causou. Você, que tanto amei, que tanto quis, que pensei em casar. Você quebrou em mim o desejo de ter uma família um dia, tanto quanto quebrou meu pé. Já que você jogou na mão da minha bipolaridade a culpa do nosso fim, eu jogo nos seus braços a culpa de todos os arranhões, quedas, psicoses.
E claro, dando a César o que é de César, também agradeço a todos que me ergueram nesse meio tempo, meus amigos, meus ficantes e o tio que pôs o pé dele na minha frente para eu parar de rolar os degraus. Obrigada, pessoal.
Foto de capa: Freepik
Crônica por Hunter, com edição de texto de João Agner.
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Como sempre suas crônicas são maravilhosas
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