Por Hunter
Desde criança, sempre tive opiniões muito fortes sobre todas as coisas, oito ou oitenta. Já via desigualdade, achava absurdos e gritava horrores quando presenciava tais coisas. Sempre fui curiosa, pesquisava e gostava de expor cada um dos meus pensamentos. Quando pus na minha cabeça que seria jornalista, fez-se um alvoroço dentro da casa dos meus avós.
—Jornalista, Gyovanna? Olha você não vá se meter com essas coisas de política em! Linguaruda do jeito que você é, capaz de fazerem uma maldade contigo ainda.
Eu brigava. Achava um absurdo esse tipo de pensamento. Achava um absurdo a visão que as pessoas têm dos jornalistas. Achava um absurdo a forma que o antigo presidente tratava a imprensa. E quanto mais perto eu chegava do jornalismo, mais minha avó implorava pra eu me manter apenas escrevendo meus livros.
Me sentia mal, até entender que tudo que ela me falava sobre o que acontecia com jornalistas que falavam demais é verdade, afinal, o Brasil, é o nono país que mais mata jornalistas no mundo, segundo a Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
O Brasil é o país de Vladimir Herzog, jornalista, encontrado morto em um suposto suicídio por enforcamento numa cela onde sequer conseguia ficar em pé. Apesar de ter plena consciência que o Dia Nacional da Imprensa veio de um manifesto contra a censura durante a Ditadura Civil Militar —a mesma que levou pessoas como Vlado,— foi lendo “Cova 307”, da Daniela Arbex, que entendi como eram tratadas as pessoas que fossem contra o governo.
No fim das contas, entrei em para o curso de Jornalismo. E pro terror da minha avó, eu me atraio — pouco a pouco– para o jornalismo investigativo. E agora, quando ela vem com um papo de “Você fala demais”, eu digo “Também acho que estou na profissão certa.”
Feliz Dia da Liberdade de Imprensa, neste 7 de junho, para todos que não puderam falar. Vladimir Herzog e outros não serão esquecidos.
Foto de capa: Freepik
Crônica por Gyovanna Cabral, com edição de texto de Daniela Oliveira
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