Na década de 1980, a Argentina vivenciou o que o Brasil viveu a partir de 1964: os Hermanos sul-americanos estavam sofrendo nas mãos da ditadura. Quando finalmente ela chegou ao fim, alguns chefes de família, e ex-militares, precisavam readquirir a renda que ganhavam durantes as experiências de tortura que cometiam. Para isso, eles passaram a sequestrar pessoas por conta própria: os Puccio são exemplos disso. Baseado nesta história real, “O Clã” chega aos cinemas no dia 10 de dezembro contando a história desta família que sequestrava ricos a fim de conseguir dinheiro.
O foco da narrativa varia entre Arquímedes, interpretado por Guillermo Francella, o patriarca, e Alejandro – Alex –, interpretado por Peter Lanzani, um dos filhos. O pai possui toda a experiência enquanto seu filho ainda estranha o que fazem e questiona internamente seus valores. Um dos medos do diretor Pablo Trapero, era não conseguir passar esse sentimento de verossimilhança a uma história que parece inventada, mas é exatamente o desprezo que Alex demonstra, mesmo que calado, pelos atos do pai, que faz tudo seguir como o planejado.
Com cenas reais de discursos de governantes em posse na época, o filme insere o espectador no contexto histórico. Também leva o público a conhecer que toda a família era bem vista pelos vizinhos e amigos. A mãe, Epifania -Lili Popovich –, é professora em uma escola, o pai dono de uma loja de artigos esportivos, os filhos, astros do rúgbi e as duas filhas, vivendo suas vidas de modo a parecer que não há nada errado dentro de casa.
O roteiro começa a se desenvolver a partir de um sequestro que envolve emocionalmente o filho, inclusive é a partir dali que ele começa a realmente querer sair da jogada da família sem saber ao certo como, até se apaixonar por Monica – Stefanía Koessl –, e decidir se casar com ela. Enquanto isso, as rápidas adaptações que o governo faz decidindo que tomará o poder no país, afetam a imunidade do pai em relação a seu trabalho ilegal e começam a destruir a confiança que antes ele possuía.
O clima dramático e policial do filme é reforçado pelo uso do flashforward, em que vemos parte de uma cena que ainda acontecerá. Ele está constantemente lembrando o espectador de que o plano da família não dará certo, assim como ficou conhecido em todos os jornais da época, mas nunca deixa claro quando exatamente.
O longa ganhou o Leão de Prata de melhor diretor no Festival de Veneza 2015 e se tornou o mais visto de todos os tempos na Argentina, atraindo 2,5 milhões de espectadores. O uso da câmera, a variação nos cortes e a escolha do elenco formaram uma combinação imbatível para a competição e a estrutura geral da película. “O Clã” é um filme imperdível para os verdadeiros amantes do cinema contemporâneo e todos aqueles que queiram conhecer uma obra que prende o espectador como há muito tempo não se fazia.
Luana Feliciano – 2° Período
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