Como lidar com a crise do sistema educacional, a miséria e a falta de conscientização ecológica? De qual modo incentivar a leitura, entender o papel da arte e o que é cultura? Esses e outros questionamentos serão debatidos no seminário “Três franceses e uma alemã: marcos do passado para pensar o presente”, a partir do pensamento dos filósofos Roland Barthes, Jean-Paul Sartre, Gilles Deleuze e Hanna Arendt. O evento gratuito, com direito a certificado da PUC – Rio, será no Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB – nos dias 14, 16, 21, 23, 24 e 28 de Setembro, com curadoria de Clarisse Fukelman – doutora em literatura brasileira e professora de comunicação social – e Gustavo Chataignier – professor de comunicação social e pesquisador de filosofia.
O auditório do CCBB lotou, nessa quarta-feira, e contou com a presença dos curadores Renato Lessa – doutor em ciência política e presidente da Biblioteca Nacional – e Danilo Marcondes – doutor em filosofia. Renato Lessa analisou a visão de Hanna Arendt a respeito da definição de pensamento, a relação com a moral e com os costumes, a partir do livro “The life of the mind”. O palestrante expõe a linha de raciocínio da autora e traz um questionamento dela baseado na ideia de que o ato de pensar estaria ligado diretamente à moralidade, ou seja, ao ato de julgar.

“O pensamento não pode determinar o que é bom ou mal, apenas o hábito e o costume. Mas sabemos que os últimos podem abrigar tanto o bem quanto o mal. Assim, Hanna indaga: Como nos proteger do pensamento se ele é pautado no hábito, sabendo que ele pode ser moral ou não? A resposta seria o hábito de viver junto e conhecer a si mesmo”, diz Renato Lessa.
“O palestrante fez uma crítica pertinente ao texto de Hanna Arendt, indo além da visão dela. Segundo ele, nós deveríamos não só prestar atenção no nosso pensamento, mas também buscar refletir sobre o pensamento do outro, para não cairmos na armadilha de nos basear em nossos costumes apenas”, comenta Ina Borges, professora de filosofia.
“Durante a fala do Renato Lessa me lembrei de um texto da Hanna Arendt sobre barbárie e educação. Parte do conhecimento desse texto foi fruto da experiência dela nos EUA. Ela compara muito bem a educação norte americana com a europeia. Hanna diz que nós não podemos educar os jovens de hoje passando a mão na cabeça deles. Isso parte um pouco do princípio até da educação brasileira, na qual lançamos os jovens no mundo sem estarem prontos para lidar com a cobrança imposta pela sociedade. Como educador, vejo alunos muito desobedientes e agressivos atualmente, fato que pode ser relacionado à visão de Hanna Arendt”, completa Cristiano Mello, estudante de literatura, professor e pesquisador.

Já Danilo Marcondes analisou a obra de Sartre “O idiota da família”. O livro de mais de duas mil páginas busca responder a única questão: Como uma criança de 7 anos, considerada um idiota, pôde se tornar o maior escritor francês do século XIX? Desse modo, Sartre analisa a família e o contexto da França para compreender Gustave Flaubert, o idiota. Entretanto, Sartre conclui no livro que não se pode conhecer o ser humano, apenas por meio da experiência existencial.
“Na verdade, Sartre já sabia que o seu questionamento não havia resposta, pois essa ideia é contrária a filosofia existencialista, na qual ele se baseia. A pergunta é fundamentada no pensamento essencialista e para Sartre a existência precede a essência”, relata Danilo Marcondes. A fala do orador significa que o filosofo não acredita que o ser humano só se define com o passar do tempo, mas primeiramente só existe. Por conta disso, o questionamento posto no livro não há resposta, se levarmos em conta o ideal existencialista.
“Espero que o seminário continue gerando debates acerca dos temas tratados. No primeiro dia do evento várias questões interessantes foram levantadas, não só por meio dos palestrantes, mas também por conta das perguntas dos convidados. É muito gratificante ver que todo o esforço realizado está sendo útil para estimular o pensamento crítico, próprio da filosofia”, finaliza Clarisse Fukelman.
Luiza Esteves
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