A XVII Bienal está acontecendo no Riocentro e reuni autores nacionais e internacionais, além de ávidos leitores e fãs, até o dia 13 de setembro. Em comemoração aos 150 anos de “Alice no País das Maravilhas” e “Através do Espelho e o que
Alice encontrou por lá”, uma edição especial está sendo lançada com ambos os livros de Lewis Carroll e ilustrações inéditas.
O Café Literário é o ambiente de bate-papo do centro de convenções que, apesar do espaço limitado, é aconchegante, e reúne personalidades de relevância para as questões abordadas, a fim de discutir os temas da sessão. No dia 5 de setembro o assunto era justamente: “Alice no Brasil das Maravilhas: 150 anos de uma personagem” com a presença da mediadora e escritora Katia Canton, a ilustradora da nova edição, Adriana Peliano, a pesquisadora Gisele Gomes Maia e a jornalista e tradutora Marina Colasanti.
Foi inicialmente abordado, como esta é uma obra pioneira para crianças, não possuindo um compromisso moral, ou seja, sem um ensinamento claro e compreensível para a criançada, o que torna a leitura fascinante também para adultos. “A leitura infantil tem esse caráter pedagógico que parece estar sempre atrelada a ela: a função de ensinar algo, regular comportamentos. E o Carroll quebra a corrente. É uma literatura infantil que talvez por ter sido criada em um momento descontraído, preserva esse descompromisso. É uma leitura por prazer”, definiu Gisele.
As convidadas então discutiram a origem e os motivos do sucesso contínuo de um livro lançado em 1865. “Eu sempre gostei dessa relação imagem e texto, da Alice começar o primeiro parágrafo dizendo ‘Para que serve um livro sem figuras e diálogos?’ no momento em que ela continua, na história, sendo um ícone dessa relação. Então, a capacidade do texto de influenciar artistas de várias linguagens, também foi responsável pela sua permanência, além da sua força literária e de todos os níveis de complexidade e possibilidade de interpretação da obra” disse Adriana.
Marina Colasanti criticou as adaptações que estamos acostumados a ver nas televisões, pois o que essas versões trazem é o extremo oposto da intenção de Carroll. “Houve o grande período da psicanalítica da Alice, em que foi percebido que ela na verdade é um grande sucesso entre adultos. Carroll se equivocou fazendo ‘A pequena Alice’. Neste, ele diz que quer haja como um público-alvo de zero a cinco anos sendo mais que lido, mas também mastigado, mordido e babado. Mas esse livro no nosso país é de seis para frente. Hoje em dia a Alice é um livro muito mais lido por adultos. As crianças veem muito mais adaptações equivocadas de lutas entre o bem e o mal, coisa que nunca se passou pela cabeça do Carroll. Fiquei muito irada com essa luta, moralizou com o conto de fadas”, concluiu ela.
Dentre tantas análises de um livro infantil, o que mais se destaca é que esta é mais do que uma história. É um arauto do que tantos outros desejam ser, mas não conseguem, é o símbolo de um ato contrário aos conflitos da época, uma busca por provocar um momento de diversão às meninas para quem Carroll inventava, em uma tentativa de aliená-las da dor. O aniversário da obra foi na realidade no mês de Agosto, tornando este, uma data feliz para o livro que cria e inspira até hoje tantas gerações.
Luana Feliciano
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