Quarta mesa da SECOM da UVA trouxe discussão sobre “Marca RJ: registros no jornalismo”
“Toda identidade é uma construção. Se a Marca RJ surge no âmbito publicitário de ‘vender’ o
Rio de Janeiro às vésperas dos mega eventos esportivos (Copa e Olimpíadas), o jornalismo vai
um pouco na contramão. O jornalismo costura os discursos da sociedade: o lado bom e o lado
ruim”. Foram estas as palavras da editora executiva da sucursal do R7 no Rio, Silvia Ribeiro.
Ela foi uma das convidadas da segunda mesa de discussões programadas para o segundo dia
da Semana de Comunicação da Universidade Veiga de Almeida (SECOM/UVA), realizada no
auditório da unidade da instituição na Tijuca.
Também estiveram presentes o fotojornalista Gabriel de Paiva, d’O Globo; o apresentador do
Brasil Urgente (TV Band), Fábio Barreto; e a repórter da Rádio Globo Evelyn Moraes. Juntos,
e com a mediação do professor da UVA Tony Queiroga, eles tentaram delinear o papel do
jornalismo na construção dessa nova identidade carioca proposta pela campanha Marca RJ.
Todos concordaram que a função da mídia, neste caso, é de expor as faltas do Estado, de
mostrar que o Rio nem sempre é tão bonito quanto pintam os cartões-postais.
Para Silvia, isso nem sempre é possível, uma vez que o bom jornalismo tem perdido espaço
nas redações. “Vivemos uma encruzilhada, com redações cada vez mais enxutas e o
conteúdo muitas vezes pautado pela audiência”. Segundo ela, no entanto, ainda é preciso
ter pensamento crítico em relação a campanhas como a Marca RJ. Quando visitou o site, por
exemplo, ela notou que não existe a extensão “.gov”, afirmando tratar-se de uma página
institucional.
“O Governo tem feito coisas boas, sim. Mesmo morando no Rio só há dois anos, são visíveis
as melhorias pelas quais a cidade passou. Mas as qualidades ressaltadas pela Marca RJ
se conquistam com serviços essenciais de qualidade e, nisso, ainda precisamos avançar”.
Ainda de acordo com Silvia, é possível corroborar com isso no jornalismo através de dados
estatísticos – a redução da criminalidade, melhorias nas condições de moradia e saneamento
básico.
Já Evelyn Moraes ressaltou o papel do jornalista para auxiliar nessa construção. “Às vezes a
gente pressiona o Governo e isso traz resultados, melhorias”. Ela lembra de um caso de mau
atendimento num dos postos de saúde da cidade. Depois de reportagens da Rádio Globo
sobre o assunto, o problema foi resolvido. “Não tem como a gente fechar os olhos para os
problemas”, concluiu. Segundo ela, o jornalismo precisa, sim, falar daquilo que está errado,
mas diante da perspectiva de melhorá-lo.
O argumento foi endossado por Fábio Barreto, do Brasil Urgente. “Isso também se faz através
de um jornalismo isento, com maior liberdade de expressão para abordar qualquer tema que
seja, sem rabo preso”. Ele reiterou a necessidade de formar uma população com senso crítico,
que veja além daquilo que lhes é apresentado pelas campanhas de publicidade. “Também vejo
muitos jornalistas pararem naquilo que enxergam. Precisamos ir além: analisar os dados com
cuidado, informar no real sentido da palavra”.
Se não com o uso da linguagem verbal, que seja como fez Gabriel de Paiva, fotojornalista d’O
Globo. “Acho que fotógrafo não tem que falar muito: tem que mostrar”. As fotografias de
Gabriel explicam sem palavras o que queria dizer Fábio Barreto: o jornalismo é um exercício
diário de olhar. Para as pessoas, para a cidade, para o que até parece óbvio às nossas retinas.
De acordo com os presentes, o bom jornalismo se aplica a tudo na vida. Ser jornalista, como
colocou Silvia, é se colocar num lugar de onde é possível refletir sobre a sociedade.
Melina França (Agência UVA)
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