Mudanças tecnológicas sozinhas não são determinantes em orientar novos caminhos para a imprensa. Prova disso é o 6º Colóquio Rumos Jornalismo Cultural – Convergências, promovido pelo Itaú Cultural em sua sede na Av. Paulista entre os dias 3 e 5 de dezembro que, a julgar pela prévia da primeira manhã do evento, indica uma preocupação essencial com atalhos que levem à periferia. Num debate entre 12 alunos e oito professores selecionados entre os mais diversos cursos de Comunicação Social do país e a veterana Lúcia Guimarães – hoje repórter do Saia Justa da GNT e colunista e colaboradora de O Estado de S. Paulo e da Rádio Eldorado – levantou-se a questão de que é preciso abrir espaço para as pautas que estão por aí a descoberto simplesmente porque não dispõem de um marketing estruturado.
Nem sempre os artistas mais conhecidos são destaque no seu país de origem ou merecem toda a cobertura que recebem por aqui, uma vez que divulgação depende muito mais de contatos estratégicos do que de talento, lembrou Lúcia. Pautas parecidas também atrapalham a cobertura do cenário cultural nacional que é tão rico, mas tão pouco explorado. No entanto, nas reportagens que promoveram seu encontro com o Itaú Cultural, boa parte dos alunos tratou de temas periféricos, como o sotaque do caipira ou o folclore regional. “A censura corporativa é muito pior do que a da época da ditadura”, afirmou a palestrante, que considera uma perda para o público quando há uma opção editorial em promover o que é obscuro ou elitista.
Algumas recomendações importantes, em especial para os estudantes de Jornalismo, surgiram desse primeiro encontro realizado no Salão Vermelho, na sede do Itaú Cultural:
– uma formação estética pobre pode ser compensada pela sensibilidade e pela humildade intelectual de saber fazer perguntas;
– é a leitura de livros, mais do que a de jornais, que ajuda a aprender a escrever;
– um bom editor embeleza o texto do repórter e pode ser seu melhor aliado;
– entrevista por e-mail só funciona se não envolver assunto polêmico, ou o repórter não poderá discutir no mesmo momento as afirmações do entrevistado;
– é preciso combater o conceito de “monstros sagrados” no jornalismo cultural: qualquer artista pode, sim, realizar também um trabalho ruim.
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