Participe da notícia

Tecnologia que nos separa, apagão que nos une

Em poucos minutos todo o país escureceu. As linhas telefônicas caíram e, em algumas localidades, até água faltou. Arrastões na Avenida Brasil e Maracanã, seqüestros relâmpagos na Tijuca. Estudantes e trabalhadores presos no metro de São Cristovão, sem ter como voltar para casa, nem os taxistas arriscavam uma corrida. O motivo? Medo dos assaltos que dobraram de número naquela noite atípica de terça-feira. O apagão me pegou ao chegar em casa. Sentada no sofá, ainda enrolada na toalha do banho, ouvia meu irmão relatar o que era noticiado no mp3: “o blackout é geral. Rio, São Paulo, Minas… Tudo no escuro”. Inclusive o mp3. A bateria descarregou e a Band se calou. Apagou-se o Brasil.

Tentei falar com meu namorado, minha preocupação era que, caso fosse liberado da fábrica onde trabalha, corresse algum risco. Sem sucesso. As operadoras não funcionavam. Tentei o telefone fixo e adivinhem? Nada. Parecia cena daqueles filmes catástrofes de Hollywood. A cidade transformada em caos, o contato com o mundo estava perdido. Sem TV ou internet, não nos restou alternativa se não dar início a uma busca insaciável por um objeto quase obsoleto: o radinho de pilha.

Pobrezinho, desprezado após tantos adventos da tecnologia, era chegada a hora de o rádio saborear sua vingança! Ok, também não é para tanto! Mas fato é que, naquele momento, ele valia mais que ouro. Encontrado em meio a caixas velhas e empoeiradas, lá estava ele, pronto para atender seu mais nobre propósito: informar!

Ao redor da mesinha de centro da sala de estar, sentaram diferentes gerações de amigos, vizinhos e familiares. Muitos não faziam aquilo havia tempos. Quantas boas conversas desperdiçadas entre a correria do dia a dia e as paranóias do mundo moderno. Naquela noite, apesar da perceber que em um mundo tão moderno, estamos sujeitos às fragilidades de um apagão, também foi possível notar o quão distantes nos tornamos uns dos outros e que é preciso momentos como este, ao redor de um radinho de pilha, para nos sentirmos mais próximos, mais unidos.

Valéria Cezario

Avatar de Desconhecido

Agência UVA é a agência experimental integrada de notícias do Curso de Jornalismo da Universidade Veiga de Almeida. Sua redação funciona na Rua Ibituruna 108, bloco B, sala 401, no campus Tijuca da UVA. Sua missão é contribuir para a formação de jornalistas com postura crítica, senso ético e consciente de sua responsabilidade social na defesa da liberdade de expressão.

0 comentário em “Tecnologia que nos separa, apagão que nos une

Deixe um comentário