Ilustração: Soraya Feghali
A partir da exibição do videoclipe “I’m afraid of Americans”, de David Bowie, os alunos de Técnicas de Redação & Expressão redigiram narrativas ou dissertações sobre o sentimento do medo – confira!
Fabíula Gomes
O medo é um sentimento devastador, uma emoção que desencadeia muitas outras emoções, quando o coração dispara, o arrepio invade o corpo, a adrenalina corre por nossas veias e os pensamentos negativos tomam conta de nossa mente. As reações tornam-se cada vez mais lentas às ações e o medo, muitas vezes, nos vence.
Era inverno, mais um dia cinza, passávamos um fim de semana na montanha, eu e minha família. Estava extremamente aborrecida por estar lá, não fazia parte dos meus planos passar um fim de semana de minhas preciosas férias de inverno com a família naquele lugar, o tédio estava pairando sobre mim. Não satisfeita, peguei uma trilha. Como não tive companhia, fui sozinha. A trilha ficava a alguns metros da casa onde eu estava. Entrei na mata e fui cada vez mais fundo. Quando me dei conta, não sabia onde estava, a trilha havia sumido diante de meus olhos, o desespero tomou conta de mim naquele momento, não conseguia pensar em nada a não ser na possibilidade de eu ficar na mata por horas e ninguém sentir minha falta. Meu celular não funcionava, não tinha sinal e eu não fazia a mínima idéia de como sair dali. Fiquei ali por aproximadamente umas quatro horas sentada numa pedra encolhida por causa do frio e por saber que estava desprotegida. Quando de repente, ouvi as plantas fazendo um barulho, como se estivesse passando alguém. Fiquei apreensiva e o arrepio subiu pela espinha. Era um bom sinal ou não? Levantei lentamente a cabeça e estava ali, bem na minha frente, parado feito estátua, um garoto. Me olhava com os olhos preocupados e eu sem reação nenhuma o olhava com os olhos desconfiados. Ele abaixou para ficar na mesma altura e eu continuava sentada na pedra. Ele pôs as mãos nos meus joelhos, me olhou profundamente e perguntou meu nome. Eu disse. Ele me perguntou se eu estava bem e se tinha me perdido de alguém.
Eu não conseguia falar nada e então ele me pegou pelo braço e me levantou e disse que me levaria à cidade de volta. Eu só conseguia olhar para ele, meus olhos brilhavam de alívio, mas no fundo havia um certo medo. Caminhamos durante uma hora, na maior parte em silêncio.
Quando chegamos à cidade, eu suspirei de alívio e meus olhos transbordavam felicidade. Agradeci muitas vezes e ele, meio sem jeito, me levou até a casa onde eu estava passando o fim de semana. Com a voz meio sumindo eu lhe agradeci novamente e o abracei bem forte. Dois anos se passaram e, até hoje, o meu herói, é o meu melhor amigo.
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