A partir da exibição do videoclipe “I’m afraid of Americans”, de David Bowie, os alunos de Técnicas de Redação & Expressão redigiram narrativas ou dissertações sobre o sentimento do medo – confira!
Bárbara Padrão
Estava voltando para casa com o meu pai. Era dia 28 de outubro de 2008, as 21h e 40 min aproximadamente. Ouvíamos uma música dançante e eu até cantava. Pouco tempo depois de o meu pai virar à esquerda, percebeu que havia um carro atrás dele querendo ultrapassar. Ele diminui a velocidade e deixou o motorista passar. O carro acelerou e parou em frente ao carro do meu pai e logo saíram quatro cabeças da janela. Eram todos homens negros e cada um segurava uma metralhadora. Todas elas apontavam para a nossa direção, minha e do meu pai. Naquele momento eu me vi morta; nunca estive tão perto de Deus e do meu avô paterno. Não sentia as minhas pernas.
Entrei em pânico. Meu pai só falou para sair do carro. Mesmo sem saber onde estavam minhas pernas e minhas forças, eu saí do carro. Nisso, dois dos quatro homens foram para cima do meu pai,um pra cima de mim e o último entrou no carro do meu pai. O que eu não tinha visto é que havia outro carro atrás do nosso dando cobertura. Saí do carro deixando tudo: minha mochila com roupas, sapatos e outros pertences e minha bolsa com documentos e celular. O bandido só me falou para deixar a bolsa no carro; isso com a metralhadora apontada para mim. Do outro lado, enquanto um segurava as duas metralhadoras na direção da cabeça do meu pai, o outro o revistava. Perguntaram se ele era policial (se fosse já estaria morto, né?) e se tinha deixado a carteira no carro. As respostas foram não e sim, respectivamente. Arrancaram o cordão que ele tinha com um crucifixo e que estava por dentro da blusa, mas não levaram o relógio. Como pode isso, eu não sei. Só sei que ameaçaram matá-lo. Assistia a tudo de pé, com as mãos para cima e olhando para os dois carros: o da frente e o de trás. Tinha medo que saísse mais algum assaltante.
Depois de revistarem tudo os “caras” finalmente entraram no carro do meu pai. E aí veio outro problema: a marcha era automática e eles não sabiam mexer. Demoraram uns trinta segundos até conseguirem sair. Os três carros “arrancaram” juntos. Quando vi que já tinham dobrado a esquina eu voltei a sentir as minhas pernas. Caí no chão e chorava compulsivamente. Meu pai veio correndo, inteiro, e me abraçou. Minhas pernas tremiam e eu não conseguia me mexer. Só sei que aquele era o melhor abraço do mundo inteiro.
O assalto durou uns cinco minutos mais ou menos. O que para mim durou cinco horas. Um dos donos de uma casa ali daquela rua nos ajudou e nos levou até em casa. Parece até que eu já previa algo. O carro do meu pai era novo e ele havia pego há uma semana. Era todo preto e eu falei que chamava muita atenção. Aquele era o primeiro carro preto que ele comprou na vida. O trabalho exige que ele troque de carro com freqüência. Meu pai estava muito feliz com o carro, estava falando sobre a troca havia meses. E, finalmente, quando ele conseguiu trocar o carro, o roubam. Não falo isso pelo carro, mas sim pelo meu pai, que sempre trabalhou muito para conseguir as coisas que tem.
Felizmente, estamos vivos e inteiros. O carro foi achado e mandado para a oficina para consertar os estragos que fizeram. Meu pai já o recuperou e continua com ele. É isso que ainda me deixa com medo, já que ele anda muito de carro por aí. Tanto durante o dia, quanto durante a noite. Mas eu sei que Deus sabe o que faz!
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