Beco dos Garranchos

UMA HISTÓRIA REDUNDANTE

Aqui um texto criado a partir da ideia de pleonasmo, na disciplina Técnicas de Redação & Expressão. O ponto de partida foi um vídeo, publicado no YouTube, chamado “Redundâncias”, do Nóis na Fita…

Bianca de Oliveira

 

Essa triste história de final péssimo aconteceu comigo. Maria das Letras, filha de pai português e mãe linguaruda. Logo, percebe-se que eu era uma apaixonada pela bela e encantadora língua portuguesa.

Desde pequena, meus ouvidos doíam e minhas birras começavam por culpa dessas pessoas redundantes que ousam ser amigas do pleonasmo. Ah, o velho e irritante pleonasmo.

Lá estava eu, brincando com meus amiguinhos, quando minha mãe, já cansada de fofocar, gritava:

– Mariazinha, entra já pra dentro que tá esfriando, menina!

Não satisfeita ela ainda brigava com meu querido cachorro:

– Sai já pra fora, Rex! ‘Tá sujando todo o meu tapete!

Minha santa gramática! É possível sair pra dentro e entrar pra fora?

E lá fui eu crescendo. E a redundância alheia também. Na minha escola não era diferente:

– Professora, posso adiar para o dia seguinte a entrega do meu trabalho?

– Você tem que encarar de frente seus erros, Lucas. Poderia ter antecipado para antes a lição. (argh)

            Minha adolescência não foi diferente. A pior coisa era ouvir aqueles meus amigos:

– Ah, vou me alistar e me tornar General do Exército!

– Tá maluco? Almirante da Marinha é muito melhor!

E não pensem que o famoso Brigadeiro da Aeronáutica ficou de fora…

Odiava quando minha mãe vinha me acordar com a maldita frase:

– Chega de dormir, Maria! Acorda e sinta essa brisa matinal da manhã!

E a minha avó e sua famosa canja de galinha? Gente, será que existe canja de porco?

Uma das coisas que mais me irritava era aquele nojento canal que vendia produtos:

– Uma novidade inédita! (ai!) Compre duas sanduicheiras e você ainda ganha grátis um livro de receitas!

Em nenhum momento soube que você ganha algo pagando…

E quando eu ia à missa, aos domingos, depois de passar pela Prefeitura Municipal (existe Estadual), e era obrigada a ouvir o padre e seu sermão?

– Desde os primórdios do princípio Deus era o salvador…

É…. só se esqueceu de nos livrar do maldito pleonasmo!

Minha vida sempre foi estressada por esse pequeno problema. Até que chegou o último grande estrago.

Estava eu, tomando meu café, quando começa o primeiro telejornal da manhã:

– Grandes empresas viram monopólio exclusivo do Sr. Magnata.

– Relação bilateral entre dois países abala o mundo.

– Presidente chega a uma conclusão final pro Tratado de Paz.

Foi pleonasmo demais pra mim! Saí tão desnorteada de casa que fui atropelada por uma van ilegal. Quando acordei, estava no hospital entre um médico e uma enfermeira que dizia:

– Ela teve uma hemorragia de sangue profunda!

Ah, não agüentei! Minhas últimas palavras ouvidas nesse mundinho redundante foram:

– Rápido! Ela está tendo um infarto do coração!

E pra ficar pior, no meu velório meu marido foi chamado de viúvo da falecida umas sete vezes…

Ai, minha santa gramática!

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