Anderson França
Acordo em uma bela manhã de segunda-feira, já atrasado para trabalhar. Olho à minha volta e está tudo revirado: roupas, sapatos… Então, paro e observo o lugar. Onde estou? E vejo que não é meu apartamento. Até a noite passada eu era um famoso empresário, agora acordo num lugar que eu nem sei onde é.
Olho para minhas coisas e percebo algo curioso: uma carta de despejo. Fico parado pensando em toda minha trajetória. Já fui médico e professor, agora me vejo maltrapilho, quem será que eu sou? Já fui cantor, advogado e até corretor e, agora, quem eu sou? Continuo na sala parado e aqui ainda ninguém entrou. É um lugar fechado estranho. Mas onde eu parei mesmo?Ah, tá! Já contei que fui um famoso jornalista e um grande esteticista? E agora, quem eu sou? Será que perdi a minha identidade, será que roubaram ela? Reviro minhas coisas e vejo uma foto, me dá minha infância, ali eu tinha uma identidade, eu queria ser um famoso comentarista, o melhor comunicador, mas acabei virando um famoso e, agora, quem eu sou?
Não sei se fico, não sei se vou. Lembrei também que já fui desembargador, dançarino e também ator, mas não adianta me lembrar disso também pois, e agora? Quem eu sou? Eu, o famoso quem? Vejo pessoas de branco entrando na sala, me pedindo para ficar calmo. Então, eu disse a eles: eu estou calmo. Por que estão pondo esta camisa em mim? Me larguem! Sou um famoso empresário! Então eles me disseram que, ali, eles também tinham um Napoleão.
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