Beco dos Garranchos

Pontualmente no horário da sorte

Desirée Barreto

Acordei pontualmente, eram 6 da manhã. O café estava frio e o dia abafado. Era o preto ou o bege… Qualquer terninho estava bom. Bati a porta, a chave ficou lá dentro. Agora deixa, quando eu voltar o porteiro arromba. Passaram três ônibus até que o quarto, pontualmente às 7h47, parou bem lotado. Pensei em tirar o trocador do assento dele, pois o sapato bico fino estava me matando. Bom, deixa ele lá. E me sentei, mas faltava um ponto para saltar.

Pontualmente cheguei às 8h58.

– Por favor, quadragésimo andar – terninho fechado ou aberto? Moço, o cabelo está bom?

Ele não respondeu. Entrei na sala, ninguém dentro dela. Poxa, pontualmente no lugar certo. De repente, um papel com letras minúsculas caiu levemente sobre o sapato bico fino que tanto me doía os pés:

“Recado para Deca, entrevista Rua do Passeio, nº. 54, 40º andar, pontualmente 9h da manhã. Beijos, Lola e boa sorte.”

Já sem os sapatos, sobre areia macia e úmida, pensei que a sorte somos nós que fazemos, mesmo quando o relógio não fora ajustado para o horário de verão.

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