Mattheus Rocha
Tô cansado de ficar em casa. Não saio daqui há mais de uma semana. Não gosto de gente, mas não consigo manter minha sanidade assim.
Minhas ideias estão acabando. Olho minha sala e só consigo ver papel amassado. Ideias jogadas fora… Será que alguém vai se interessar em ler meu livro? Eu nunca escrevi uma biografia… Mas pra tudo temos uma primeira vez. Várias “primeiras vezes” me passam pela cabeça. A primeira foda, o primeiro cigarro, a primeira vez num estádio de futebol…
Quando vi meu primo Querêncio jogando no Maracanã pela primeira vez, chorei… Chorei muito! Sua entrega em campo, sua leveza e habilidade comoviam multidões de olhos, que mantinham o mesmo ponto fixo. Milhares de câmeras fotografando algo que durou pouco, mas se fez inesquecível. Ele se afundou nas drogas e foi assassinado. Ninguém fez, nem nunca fará, o que Querêncio Batista, o poeta da bola boêmia, fazia no seu palco, o campo de futebol.
Saí da missa de sétimo dia com a promessa de que não iria arredar o pé de casa enquanto não fizesse uma biografia à altura de sua arte.
Mas a inspiração me foge. Preciso de algum estímulo. Chamo uma puta ou acendo uma bagana? Ou faço os dois? Melhor… Querêncio entenderia, tenho certeza…
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