Nayãna Lopes
Um pequeno ruído de algum aparelho de TV do quarto ao lado. O barulho da água caindo do chuveiro. E o último:
– Boa noite, dorme com Deus!
– Você também! Até amanhã, boa noite.
Espero alguns instantes. Agora é o momento perfeito, penso. Levanto da cama num pulo, tenho que estar pronta até ele sair do banho. Retiro do armário aquela fantasia erótica, a primeira que tive coragem de comprar na vida. Não quis ousar tanto, preferi uma branquinha mesmo. Com cuidado e sem saber bem como vestir aquilo, depois de muito suor, venço o teste da meia sete oitavos. Belos saltos, um perfuminho aqui e ali e um bom batom vermelho. Pareço estar pronta. Mas, em que posição ficar até ele entrar? Me cubro com o lençol? Ou já o espero de pernas abertas? Com ou sem dedinho na boca? Desligo a TV para dar mais suspense ou a deixo ligada para valorizar a cinta liga? Se eu desligar, será que, quando a coisa começar a pegar fogo, os ruídos de gemidos abafados não vão ser ouvidos no quarto dos pais dele? Acendo ou não as velas? E se na empolgação o lençol voar e pegar fogo em tudo? Não seria legal um vibrador pulando porta afora e nós dois correndo nus pela casa dos meus sogros.
Quando tudo parece estar pronto, meu cabelo no ângulo perfeito, minhas curvas nos pontos estratégicos da cama, surge uma leve e baixa batida na porta…
– Entra, pode entrar!
Quase que sussurrando, falei no tom mais sexy que consegui, como se o convidasse para entrar em mim. Então, entra minha sogra. Aquela que há uns quinze minutos me viu de pijamas e com aquela fofa carinha de anjo que vai dormir me encontra aqui agora, nessa situação, com cara e porte de devassa, como se fosse comer seu filho vivo (e era essa a intenção mesmo). Rapidamente, me enrolo no lençol. Não sabia se ria ou chorava, nem ela sabia pelo visto. Com cara de sem graça e gaguejando um pouco, só conseguiu soltar:
– Ligaram de um lugar aí pra você hoje, te marcaram uma entrevista amanhã às 9h. Pediram pra levar currículo com foto. O endereço está na mesinha. Bem, vou dormir, tô um pouco cansada. Boa sorte!
– É… beijo, boa noite!
Foi o melhor que pude fazer e dizer, e ela também. Uns dez minutos depois ele entrou, consegui me reestruturar para a programada noite de amor. Foi fantástica, por sinal. Resolvi deixar o radinho ligado, ela não merecia ouvir gritinhos e suspiros depois da cena com que tinha se deparado. O boa sorte que me desejou foi realmente subjetivo, fui bem “naquilo” e na entrevista. Trabalho lá até hoje. No dia seguinte nos olhamos sem graça, mas não comentamos sobre o assunto.
Foi realmente inesquecível a comemoração do meu sétimo mês de namoro. Semana passada me lembrei do ocorrido, rimos muito, estamos rindo até hoje. Me arrependo, não da noite, mas de ter relembrado o que aconteceu. Aprendi que essas coisas não se conversa com sogra, ela não pára de me imitar com o tal dedinho na boca. E ainda tenho que ouvir:
– Sua devassa, safadona!
Essa virou a frase do momento e coisas nesse nível também estão na moda. Regadas a boas gargalhadas.
Agora, imagina se ela soubesse, ou pior, visse, as fantasias posteriores? Devassa seria pouco. Mês que vem completaremos um ano e SETE MESES, mas vamos comemorar no motel dessa vez. Até porque não seria nada legal ela me vendo de coelhinha, com uma cenoura na boca e tudo.
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