Beco dos Garranchos

O SÉTIMO “mêsversário”

O 7°

Nayãna Lopes

Um pequeno ruído de algum aparelho de TV do quarto ao lado. O barulho da água caindo do chuveiro. E o último:

– Boa noite, dorme com Deus!

– Você também! Até amanhã, boa noite.

Espero alguns instantes. Agora é o momento perfeito, penso. Levanto da cama num pulo, tenho que estar pronta até ele sair do banho. Retiro do armário aquela fantasia erótica, a primeira que tive coragem de comprar na vida. Não quis ousar tanto, preferi uma branquinha mesmo. Com cuidado e sem saber bem como vestir aquilo, depois de muito suor, venço o teste da meia sete oitavos. Belos saltos, um perfuminho aqui e ali e um bom batom vermelho. Pareço estar pronta. Mas, em que posição ficar até ele entrar? Me cubro com o lençol? Ou já o espero de pernas abertas? Com ou sem dedinho na boca? Desligo a TV para dar mais suspense ou a deixo ligada para valorizar a cinta liga? Se eu desligar, será que, quando a coisa começar a pegar fogo, os ruídos de gemidos abafados não vão ser ouvidos no quarto dos pais dele? Acendo ou não as velas? E se na empolgação o lençol voar e pegar fogo em tudo? Não seria legal um vibrador pulando porta afora e nós dois correndo nus pela casa dos meus sogros.

Quando tudo parece estar pronto, meu cabelo no ângulo perfeito, minhas curvas nos pontos estratégicos da cama, surge uma leve e baixa batida na porta…

– Entra, pode entrar!

Quase que sussurrando, falei no tom mais sexy que consegui, como se o convidasse para entrar em mim. Então, entra minha sogra. Aquela que há uns quinze minutos me viu de pijamas e com aquela fofa carinha de anjo que vai dormir me encontra aqui agora, nessa situação, com cara e porte de devassa, como se fosse comer seu filho vivo (e era essa a intenção mesmo). Rapidamente, me enrolo no lençol. Não sabia se ria ou chorava, nem ela sabia pelo visto. Com cara de sem graça e gaguejando um pouco, só conseguiu soltar:

– Ligaram de um lugar aí pra você hoje, te marcaram uma entrevista amanhã às 9h. Pediram pra levar currículo com foto. O endereço está na mesinha. Bem, vou dormir, tô um pouco cansada. Boa sorte!

– É… beijo, boa noite!

Foi o melhor que pude fazer e dizer, e ela também. Uns dez minutos depois ele entrou, consegui me reestruturar para a programada noite de amor. Foi fantástica, por sinal. Resolvi deixar o radinho ligado, ela não merecia ouvir gritinhos e suspiros depois da cena com que tinha se deparado. O boa sorte que me desejou foi realmente subjetivo, fui bem “naquilo” e na entrevista. Trabalho lá até hoje. No dia seguinte nos olhamos sem graça, mas não comentamos sobre o assunto.

Foi realmente inesquecível a comemoração do meu sétimo mês de namoro. Semana passada me lembrei do ocorrido, rimos muito, estamos rindo até hoje. Me arrependo, não da noite, mas de ter relembrado o que aconteceu. Aprendi que essas coisas não se conversa com sogra, ela não pára de me imitar com o tal dedinho na boca. E ainda tenho que ouvir:

– Sua devassa, safadona!

Essa virou a frase do momento e coisas nesse nível também estão na moda. Regadas a boas gargalhadas.

Agora, imagina se ela soubesse, ou pior, visse, as fantasias posteriores? Devassa seria pouco. Mês que vem completaremos um ano e SETE MESES, mas vamos comemorar no motel dessa vez. Até porque não seria nada legal ela me vendo de coelhinha, com uma cenoura na boca e tudo.

Avatar de Desconhecido

Agência UVA é a agência experimental integrada de notícias do Curso de Jornalismo da Universidade Veiga de Almeida. Sua redação funciona na Rua Ibituruna 108, bloco B, sala 401, no campus Tijuca da UVA. Sua missão é contribuir para a formação de jornalistas com postura crítica, senso ético e consciente de sua responsabilidade social na defesa da liberdade de expressão.

0 comentário em “O SÉTIMO “mêsversário”

Deixe um comentário