Após acompanhar atentamente a campanha presidencial americana, noto o que ocorre lá e aqui, pois a lei eleitoral brasileira parece ter sido estabelecida para um bando de crianças irresponsáveis, para quem o ato de votar torna-se perigoso sem a supervisão de adultos.
Na disputa pela Casa Branca, valia praticamente tudo. A manifestação eleitoral foi inserida, como todo o resto, nas linhas que formam a Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos: “O Congresso não fará nenhuma lei relacionada ao estabelecimento de religião ou proibindo o livre exercício dela; não restringirá a liberdade de expressão ou da imprensa, nem o direito das pessoas se reunirem pacificamente e de solicitarem ao governo uma emenda de apelações”.
Durante a eleição americana, três livros atacando Barack Obama apareceram entre os vinte mais vendidos nos EUA. A assessoria do democrata pode criticar os autores, pode lançar outros livros em resposta, pode dizer que é tudo mentira, mas não passa pela cabeça de ninguém sugerir a punição dos envolvidos. E se alguém tentar, a Constituição estará, firme e forte há mais de 200 anos com praticamente o mesmo conteúdo, para demovê-lo de imediato.
O mundo inteiro assistiu ao vídeo no qual John McCain debocha da paixão adolescente devotada pelos americanos ao candidato do “change”. Dias depois, vimos a patricinha Paris Hilton no Youtube reagindo ao uso de sua imagem na peça da campanha republicana, comparando McCain a uma múmia, chamando-o de “velho” e aproveitando a oportunidade para lançar sua própria candidatura à Presidência, entre uma gaiatice e outra.
Por aqui, a distribuição de panfletos contra esse ou aquele vira caso de polícia. Teve eleitor em Fortaleza sendo autuado pelo crime de colar cartazes em seu estabelecimento, o que já é absurdo por constituir violação da propriedade. O Tribunal Superior Eleitoral tentou uma confusa regulamentação de propaganda na internet nas eleições deste ano. Enquanto isso, naquele país atrasado que me serve de contraste, blogs produzidos por gente de todo tipo, desde o usuário de lan house ao empresário doador, são armas fundamentais nas campanhas, servindo de apêndices aos sites oficiais dos concorrentes. No nosso país avançado, certos candidatos brincam de semântica judicial, transformando a liberdade de expressão em “grave atentado contra a democracia”, nas palavras dramáticas de um chefe do petismo cearense. Paris Hilton tem sorte por não ser brasileira: já estaria na cadeia.
Por Jeferson Rodrigues • 6º período • Jornalismo Digital
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