Entrevistas

Drogas: não seja dependente delas

As drogas, como o próprio nome já diz, são uma droga. Estudos afirmam que, hoje, o índice de jovens dependentes desse vício, com idades entre 12 e 20 anos, cresceu em torno de 38%. Fato esse que, na maioria das vezes, pode ser resultado da falta de diálogo do usuário com sua família ou por influência de terceiros. A Agência UVA foi entrevistar o funcionário público e ex-usuário de drogas, Delamir Américo, 47 anos para saber como é a vida de um dependente químico, o que muda na rotina dele e o que fazer para ingressar novamente no cotidiano com um ritmo de vida normal e sem vícios.

 Drogas: não seja dependente delas

Agência UVA – Com quantos anos começou a usar drogas e o por quê dessa atitude?

Delamir – Comecei a consumir drogas aos 15 anos e tenho certeza de que tomei essa atitude por ter uma visão equivocada do que é ser e fazer parte de um todo.

Agência UVA – Quais tipos de drogas costumava usar?

Delamir – Eu usava álcool e muita cocaína.

Agência UVA – Qual era a sensação de estar sob o efeito delas?

Delamir – No início era uma sensação de bem-estar, mas com o passar do tempo, esse mesmo bem-estar se transformou em uma enorme culpa. A sensação no período de abstinência era de muita irritabilidade; eu ficava muito ansioso e depressivo. Na realidade, me sentia muito culpado por estar fazendo aquilo.

Agência UVA – Você acha que a educação influencia na maneira de agir dos jovens?

Delamir – Sim. Tanto no lado positivo quanto no negativo. O mais importante é saber como o jovem recebe as informações sobre a construção do sue universo emocional.

Agência UVA – Na sua opinião, o que leva uma pessoa, na maioria das vezes, a ter a primeira experiência com as drogas?

Delamir – Eu acho que, em parte, é a inabilidade de lidar com questões ligadas à sua formação como indivíduo.

Agência UVA – Você acha que a influência de terceiros ajuda nessa decisão?

Delamir – Com certeza. Principalmente se a pessoa tiver uma personalidade fraca, como aconteceu comigo.

Agência UVA – Qual foi a reação da sua família quando soube que você havia começado a consumir drogas?

Delamir – Devido à formação educacional dos meus familiares, eles não sabiam como proceder com um drogado. Eles simplesmente desistiram de tentar uma saída para minha cura, pois achavam que eu não conseguiria conquistar novamente uma vida social dentro dos padrões da normalidade.

Agência UVA – Você acha que a família tem uma participação indispensável no tratamento de um dependente químico?

Delamir – Claro, não tenho dúvidas quanto a isso. Com o apoio da família e o acompanhamento de profissionais qualificados, a cura fica muito mais concreta e rápida.

Agência UVA – Em relação ao diálogo dos pais com os filhos, você acha que isso é realmente importante na prevenção?

Delamir – Sim, com certeza. O dependente químico tem que sentir confiança na família a ponto de falar de suas inabilidades e fraquezas, para que juntos possam buscar soluções para todos os problemas.

Agência UVA – Como os pais podem identificar um usuário dentro de casa e o que muda na rotina dessa pessoa?

Delamir – As mudanças são gradativas. Nesse caso, o mais importante é analisar o comportamento. Um jovem que mente demasiadamente sobre coisas simples, certamente tem problemas, não necessariamente com drogas, mas algo que possa levá-lo ao uso delas. Buscar orientação profissional nessa hora é a melhor solução.

Agência UVA – Você ficava agressivo enquanto estava sob o efeito da droga?

Delamir – Nem sempre. Na maioria das vezes, a droga potencializa as reações emocionais do indivíduo. No meu caso, essas reações sempre chegavam ao extremo, não importava o tipo de reação.

Agência UVA – Chegou a ponto de roubar objetos de sua própria casa para sustentar o vício?

Delamir – Sim. Roubei a mim e aos outros. A maioria dos usuários, no início, tem tudo sob controle, mas chega um determinado momento que você passa a não enxergar mais nada e o que realmente importa na sua vida é satisfazer a dependência. Já fui internado algumas vezes e não foi nada fácil. Até porque mesmo depois de vinte e cinco anos de uso contínuo eu não sabia e nem sequer tinha noção de que era um dependente das drogas

Agência UVA – Você procurou alguma entidade do governo para lhe ajudar a largar o vício?

Delamir – Sim. Fui encaminhado pelo meu terapeuta para uma internação, mas precisei de dois anos de terapia intensiva para tomar a decisão de pedir pela minha própria internação. Existem algumas instituições públicas que são voltadas, unicamente, para a recuperação. Seus profissionais foram ou ainda são dependentes em recuperação formados na área.

Agência UVA – O que a droga fez na sua vida?

Delamir – A droga me fez parar e pensar se era realmente aquilo que eu queria para a minha vida. Arrependimento eu não sinto. Sou responsável pelas conseqüências e, na medida do possível, venho fazendo nesses longos anos as devidas reparações dos danos causados a mim e aos outros.

Agência UVA – Que lição que você tirou disso?

Delamir – Viver um dia de cada vez, sempre em frente e sóbrio, fazer o que pode ser feito para que o mundo em que vivemos seja a cada dia melhor.

Agência UVA – Que mensagem você gostaria de deixar para as pessoas que desejam parar com esse vício?

Delamir – Não esperem, nunca, o fundo do poço. Não tenham vergonha de procurar ajuda. Analisem a questão e encarem o problema de frente. JUNTOS SOMOS ROCHA E SOZINHO SOMOS LAMA.

Carolina Marques • 5° período • Jornalismo Digital

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