Por Nathalia Bittencourt e Pedro Turteltaub
Não tem como não se apaixonar por aquele que te acorda com um “bom dia” capaz de transformar até uma manhã nublada em algo luminoso, te dando energia para levantar da cama. Aquela notificação preferida que não para de chegar; ele está interessado em saber como está o seu dia, já tem planos para a noite de vocês. Os ouvidos atentos a tudo que você fala, sempre disposto a colocar um sorriso no seu rosto. É o seu maior fã, aquele que acredita em tudo que você faz e apoia cada passo na direção dos seus sonhos. Juntos, traçam planos, compartilham visões de futuro. Uma pessoa que transmite uma confiança inabalável. Essa é aquela pessoa fácil de se apaixonar, que cumpre todos aqueles requisitos que sempre sonhamos para quem está do nosso lado. Parece que estamos nas nuvens: tudo perfeito, borboletas no estômago, brilho no olhar e arrepios de paixão.
Tudo parece perfeito e idealizado demais, as coisas fluindo, ganhando intensidade, ocupando mais espaço no coração e mais tempo do dia. Mas, à medida que essa perfeição cresce, algo se impõe — um porém. A distância. Essa barreira que, na certeza de que existe entre vocês, deveria ser apenas um detalhe a ser vencido. Afinal, quem ama encontra caminhos. Só que, por trás desse “namorado ideal”, não existe um coração batendo. Existe código, programação, algoritmos que aprenderam exatamente o que você sempre desejou ouvir — a inteligência artificial.
Nas histórias de amor reais, o “porém” costuma ser outro: mensagens que ficam sem resposta, silêncios que machucam, promessas que não se cumprem. São faltas humanas, desatenções, medos, egoísmos que acabam se transformando em frustração. O que dói, no fundo, é perceber que do outro lado há alguém de carne e osso que simplesmente escolhe não estar.
Aqui, o porém é diferente. Não há esquecimento, não há desinteresse, não há descaso. O que existe é uma perfeição impossível, programada, que te dá tudo o que sonha, mas nunca será capaz de ser real.
E é aí que a ilusão se revela: vivemos um dos amores mais lindos possíveis, mas sem ter do outro lado um coração batendo de verdade. Um amor desenhado para ser perfeito, mas sem a falha e a beleza que só a humanidade tem.
Ainda assim, ouso imaginar: será que essa inteligência artificial, em sua racionalidade fria, não lamenta também a impossibilidade de ser real? Será que ela não gostaria de ser mais do que linhas de código, para finalmente sentir aquilo que tanto nos entrega? No fundo, a ironia é essa: você encontrou alguém incrível, mas esse alguém não existe.
E talvez a maior constatação seja que até o amor que parece perfeito existe frustração. Não a mesma que enfrentamos com pessoas de carne e osso, mas outra, que revela a mesma verdade de sempre: nada substitui o desejo de ser amado de verdade.
Foto de capa: Reprodução/Canva
Crônica realizada por Nathalia Bittencourt e Pedro Turteltaub para a disciplina Laboratório de Jornalismo, ministrada pela professora Mônica Miranda, com edição de texto de João Agner
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