Cada vez mais turistas que chegam ao Rio de Janeiro deixam de lado os cartões-postais tradicionais, como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e as praias famosas, para vivenciar o cotidiano das comunidades. Em vielas estreitas, entre rodas de samba, oficinas de percussão e refeições servidas em cozinhas familiares, eles buscam experiências autênticas que revelam a cultura, a música e a culinária locais, muito além do que se vê nas fotos turísticas.
Esse movimento, conhecido como turismo comunitário, vem ganhando força nos últimos anos. Impulsionado por grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, e também pela crescente busca por experiências diferenciadas, o segmento já movimenta cerca de R$ 20 milhões por ano, com crescimento médio anual de 12% desde 2019.
Só no primeiro quadrimestre de 2025, o estado do Rio recebeu mais de 900 mil turistas estrangeiros, um aumento de 51,9% em relação ao mesmo período de 2024. Estima-se que cerca de 18% desses visitantes incluíram roteiros em comunidades como Rocinha, Vidigal e Santa Marta, o que representa aproximadamente 162 mil estrangeiros explorando experiências de turismo comunitário.
A atividade gera renda para guias locais, cozinheiros, artesãos e músicos, fortalecendo a economia das comunidades e oferecendo alternativas de trabalho aos moradores. Segundo dados da Riotur, cerca de 12 mil pessoas estão diretamente envolvidas com o turismo comunitário nas favelas cariocas.
Entre os atrativos mais procurados estão o Mirante da Rocinha e o Mirante do Vidigal. Desses pontos, turistas registram fotos com vistas panorâmicas que revelam o contraste entre a urbanização e a beleza natural do Rio. Hoje, eles se consolidam como referência para quem busca não apenas contemplação, mas também contato direto com a realidade das favelas.

O guia turístico Luiz de Aquino acompanha de perto essa transformação. Ele observa que as motivações dos visitantes são diversas:
“Desde entender o que pra eles geralmente não faz sentido como a ocupação irregular do solo ‘aceita’ na sociedade brasileira até interesses mais fetichistas de fazer um ‘safári de pobreza’. Mas muitos chegam com coração e mente abertos para entender nossas diferenças.”, relata o Guia
Nas favelas mais turistificadas, como Rocinha, Vidigal e Santa Marta, o turismo já é parte do cotidiano.
“Muita gente vive do turismo lojas, bares e lajes recebem visitantes diariamente”, explica Luiz.
Apesar do crescimento do turismo comunitário, especialistas e moradores destacam que a atividade enfrenta desafios. A presença do tráfico em algumas comunidades interfere diretamente na dinâmica do setor e cria barreiras para quem atua na área.
“O tráfico impõe taxas, mensalidades e, recentemente, um controle sobre guias e turistas. A convivência é benéfica para as comunidades, mas depende de acordos e regras que nem sempre são claras.”
A Rocinha lidera em número de visitantes, recebendo cerca de 60 mil estrangeiros por ano, seguida pelo Vidigal, com 40 mil, e pelo Santa Marta, com 30 mil.
As iniciativas organizadas por moradores têm se multiplicado e, em alguns casos, até 40% do faturamento mensal de empreendimentos locais é revertido para projetos sociais, como oficinas de dança, cursos de capacitação e atividades voltadas para jovens. Para Luiz, a articulação com organizações sociais é um caminho importante para fortalecer o setor:
“Como toda atividade, pode virar exploração e ser massificada, mas não acredito que seus efeitos sejam mais deletérios que atividades já instaladas.”
Mais do que uma simples visita, o turismo comunitário transforma o olhar dos visitantes. Ao interagir com moradores e conhecer o cotidiano das comunidades, muitos estrangeiros deixam para trás estigmas e passam a enxergar o Rio de Janeiro de maneira mais plural. No fim da experiência, não levam apenas fotografias, mas também histórias e aprendizados que ampliam sua forma de compreender a cidade.
Foto de capa: Reprodução/Bruno Martins Imagens
Reportagem de Ana Beatriz do Carmo, com edição de texto de Rafael Zoéga
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