Ano passado, era comum me deparar com olhares assustados quando eu dizia que meu TCC seria a criação de uma coleção de moda completa. Para muitas pessoas — na verdade, para a maioria — isso era algo extremamente novo, algo que ninguém esperava ouvir.
Toda essa história começou em dezembro de 2023, quando, ao finalizar o ano letivo na faculdade, entrei no grupo dos professores do meu curso no Facebook e vi uma postagem da professora Márcia Mesquita anunciando qual seria o macrotema do TCC dos alunos do próximo período: “O Brasil Urbano – Cidades Brasileiras”. Diante disso, cabia a nós escolher qual cidade abordar e em que aspecto focar — poderia ser na economia, arquitetura, em algum ponto turístico, ou qualquer outro tema que se relacionasse com a moda.
Passei as férias inteiras refletindo sobre o tema, até que cheguei à conclusão de falar sobre a arquitetura do Parque Ibirapuera, em São Paulo. A escolha foi afetiva, pois amo a cidade e sempre admirei sua arquitetura. Com isso, meu TCC1 foi uma monografia focada em alguns dos principais pavilhões como o Auditório, a Marquise, o MAM, a OCA, a Bienal e o MAC, com a proposta de desenvolver uma coleção de moda inspirada nas formas e na arquitetura desses espaços.
E então chegou o TCC2, em agosto. Essa, com certeza, foi a parte mais desafiadora. Criar uma coleção do zero, totalmente autoral, desenvolvendo tudo sozinha, me fez passar por uma mistura de sentimentos. Muitas vezes, duvidei se eu era realmente tão criativa a esse ponto.
Ao todo, deveriam ser criados 12 looks, juntamente com acessórios que incluíam sapatos, bolsas, brincos, colares e anéis (essa parte era opcional, conforme o critério de cada um). Para a pré-banca, eram apresentados 36 looks, e, em seguida, as professoras Eleonora, Adriana e Ana Paula selecionavam os 12 finais, além dos 2 que, ao final, teríamos que confeccionar.
Graças ao apoio dos meus pais, do meu namorado (que conheci durante o processo do TCC2), da minha família e das minhas amigas, consegui encarar esse desafio. Na época, foi extremamente difícil, mas hoje olho para trás com carinho e gratidão. Agora sei que sou capaz de criar uma coleção autoral — e não há nada mais gratificante e emocionante do que ver as duas peças que precisavam ser prototipadas sendo desfiladas, sabendo que há um pedacinho de mim em cada detalhe daquele look.
Rafaela Santos foi a minha primeira amizade na faculdade. Ao pedir para ela compartilhar sua experiência comigo, percebi que temos muitas similaridades.
O tema dela foi sobre o Paço Imperial. A conexão com o tema se dá pela junção de duas coisas importantes para ela: a história e a moda.
“O Paço, que carrega toda a sua importância, eventos marcantes para a história do nosso País, e estando localizado em um dos grandes ápices de movimentação de pessoas, que é a Praça XV. Ao escolher esse local, foi uma forma de reconhecer e homenagear e traduzir através da minha coleção de moda a arquitetura de um lugar tão grandioso”, Rafaela complementa.
Já sobre como foi a experiência, Rafaela conta que foi algo complexo, mas nada além do que ela já esperava. Ela sabia que seriam semanas e meses difíceis até o resultado final.
Ela ainda resume a experiência prática do TCC2 como “caótica”. Porém, considera que foi necessário, pois aprendeu ainda mais sobre organização e como alinhar seus afazeres. Rafaela também conta que o feedback das professoras foi muito importante e que, mesmo com a orientação delas, ela prezava por seguir aquilo que fazia sentido para ela e para sua coleção.
A estudante de São Gonçalo complementa dizendo que passou por todas as etapas do desenvolvimento, como a escolha dos tecidos, croquis, beneficiamentos, modelagem, costura e até bordado.
“No final, é revigorante olhar para trás e ver que a sua ideia, a pesquisa do TCC1, o processo de coleção do TCC2, se transformou em algo real”, diz Rafaela.
Ela ainda reforça que é normal achar que, com tantas demandas, o tempo seja curto e não dê para fazer tudo, mas a organização foi fundamental para que tudo desse certo no final.
Ana Vitória é minha outra parceira nessa aventura. Ao compartilhar sua experiência comigo, ela contou que seu tema foi “Elegância e Extravagância: unidas pelo design do Palácio Quitandinha”. Sua conexão com o tema vem do amor que sente pela cidade de Petrópolis e pelo Palácio. Ela ainda afirma que a dualidade de estilos arquitetônicos do local sempre chamou sua atenção.
Sobre o processo do TCC2, Ana conta que foi algo completamente diferente de tudo o que já viveu, além de ter sido um grande misto de emoções.
“Vi minha criatividade chegar a níveis que nunca antes tinha vivenciado, mas também me expus a niveis de estresse muito altos”, afirma a estudante.
Ela ainda compartilha que, assim como eu e Rafaela, participou de tudo desde o início. Optou por criar e desenvolver a modelagem e a costura de seus looks. Ana diz que foi um processo bastante difícil e que precisou lidar com a pressão do começo ao fim, mas que, no final, conseguiu aprender e aprimorar todas as áreas abordadas ao longo do curso.
No final, tudo vale a pena. Durante todo o curso, ficamos ansiosas e sonhando com esse momento — que, no fim, foi ainda melhor do que imaginávamos. O que fica agora são aprendizados para a vida toda, que vão muito além da moda, como organização e compromisso. E, claro, as amizades que estiveram conosco nessa jornada fashion.
Foto de capa: Acervo Pessoal/Cássia Verly
Reportagem de Cássia Verly
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Parabéns….
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