A relação de apaixonados por futebol com os seus times do coração normalmente é cheia de sentimentos que os fazem não conseguir ficar alheios ao que acontece. Porém, em relação aos últimos anos da Seleção Brasileira de Futebol, a impressão é de que este afeto já não é tão forte e em alguns casos ele nunca existiu. Mas, na maior parte já foi bem maior.
Quem ama o esporte, ou somente o próprio clube, geralmente faz disso algo muito importante e relevante em seu dia a dia, com alegria ao ver o time vencer ou tristeza e até mesmo raiva assistindo-o perder. Visando entender mais sobre o assunto, a Agência UVA procurou entrevistar pessoas com a faixa etária distinta e que torcem para diferentes clubes. As respostas ajudam a compreender o tema, sob a ótica de diferentes perspectivas ligadas com o futebol diariamente.
A exemplo disso, para o estudante João Lucas Gomes, de 18 anos, a relação com a Seleção Canarinho teve momentos nos quais já foi bem maior. Ele, que é vascaíno, comenta sobre o distanciamento do povo com o time e a solução quanto a isso.
“Minha relação com a Seleção já foi bem maior. Os resultados abaixo da expectativa influenciam um pouco, mas se deu principalmente pelo distanciamento entre jogadores e torcedores. A equipe parece ter perdido um pouco do brilho que unia todo um país. Acho que valorizar mais o futebol local seria fundamental para reconexão com o povo, convocar jogadores que brilham aqui no país e principalmente, resgatar o espírito de paixão e entrega dentro de campo”, comenta o estudante.
Este sentimento é corroborado pela fala do funcionário público Paulo César Teixeira, de 60 anos. Ele é flamenguista e não acompanha mais os jogos da Canarinho desde a derrota para a Alemanha na Copa do Mundo Fifa de 2014. Ele acredita que a equipe não joga mais por amor e que ela prejudica os clubes que tem jogadores convocados e tem de cedê-los.
“Após o 7 a 1, não tenho mais o mesmo ânimo, junto com os atletas milionários que não jogam por amor à camisa amarela. O time sempre joga longe do público brasileiro, fora a administração da CBF que vez ou outra, está envolvida em escândalos. Ainda tem os jogadores que são convocados e se lesionam quando estão na Seleção, sabe-se lá por qual razão. aí voltam para o clube e não podem jogar, as vezes por meses, como o caso do Pedro, do Flamengo”, reflete o funcionário público.

(Foto: Reprodução/X)
O comerciante Jorge Luiz Simões, de 56 anos, torce para o Fluminense e também acredita que a verde-amarela prejudica os clubes. Ele cita a falta de garra, que já foi vista tempos atrás e em sua opinião, se perdeu.
“Vi seleções com garra, que jogavam com amor, algo que se perdeu ao longo do tempo com o dinheiro e empresários falando mais alto no futebol. Fora isso, há o fato de que tanto o meu clube quanto todos de grande porte sempre serão prejudicados pela CBF, uma vez que, o calendário nunca ajuda os clubes”, contesta o comerciante.
A última voz a ser ouvida é a da tecnóloga em gestão de qualidade, Bruna Novaes, de 25 anos. Ela é de São Paulo e torce para o Corinthians. Segundo a jovem, os jogadores não honram mais a camisa. Ela também cita o envolvimento dos empresários no esporte e a sensação de indiferença.
“Meu apego já foi bem maior quando os jogadores ‘honravam’ a camisa. Hoje em dia, parece que só vestem por status com empresários influenciando nos bastidores. Acredito que esse seja o pensamento da maioria. Não se vê mais ruas pintadas e enfeitadas para a Copa do Mundo. Eu e muitos que conheço não trocaríamos um jogo do nosso clube para ver um da Seleção. Para ser honesta, se tornou indiferente.”
Pode-se perceber que um dos pontos mais citados é a falta de garra ou de vontade dos jogadores. Não dá para comprovar se isso é um fato, mesmo sendo um ponto constantemente mencionado. As citações sobre clubes prejudicados também são relevantes e podem-se dizer que é um fato. No caso do centroavante Pedro, do Flamengo, citado por Paulo, é evidente o prejuízo técnico que o clube teve com o tempo em que o atleta esteve fora.

(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
As datas Fifa também são uma faca de dois gumes, pois antes o Campeonato Brasileiro não paralisava durante este período, acarretando em times desfalcados de seus melhores jogadores por estarem defendendo as suas respectivas seleções. Entretanto, isso acabou e agora o torneio tem uma janela de intervalo durante essas partidas internacionais. Mesmo assim, ocasionou outro problema: o calendário apertado das equipes com jogos um em cima do outro e sem tempo para treinos ou descanso.
Além de menções aos escândalos pelos quais a CBF se envolve, há a influência de empresários nos bastidores do futebol e a maior vergonha da história do futebol brasileiro levando sete gols numa semifinal de Copa do Mundo. Ou seja, motivos não faltam para que o povo esteja cada vez mais indiferente com a Seleção Brasileira. Se antes ela batia de frente em termos de relevância com o clube do coração de cada um, hoje em dia são poucos que ainda acham válida esta discussão e o cenário ao que tudo indica está longe de ser revertido.
Foto de capa: Tomaz Silva/Agência Brasil
Reportagem de Raul César, com edição de texto de Gustavo Pinheiro
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