Esporte

Gramado sintético se consolida como alternativa e divide opiniões no futebol brasileiro

Debate entre sintético e natural ganha mais força no Brasil em 2025

Uma transformação vem marcando os campos de futebol no Brasil: a ascensão dos gramados sintéticos. Impulsionada por fatores como a durabilidade, menor custo de manutenção em comparação com a grama natural e a capacidade de suportar um calendário de jogos e eventos, a grama artificial tem conquistado cada vez mais espaço no futebol brasileiro. No entanto, essa mudança não ocorre sem gerar um grande debate entre especialistas, jogadores e dirigentes sobre seus impactos no jogo e na saúde dos atletas.

O Palmeiras foi um dos primeiros clubes do Brasil a adotar o gramado sintético em seu estádio. O time alviverde estreou o novo gramado em fevereiro de 2020. Alessandro Oliveira, CEO da Soccer Grass, empresa líder na América Latina em campos de grama sintética com certificação FIFA e responsável pelo gramado do Allianz Parque, defende a segurança do gramado.

“Existem alguns estudos realizados em outros contextos que confundem as pessoas. O que a gente tem que levar em consideração são os estudos feitos em estádio de futebol que tem a certificação A Quality Pro, e esse estudo a FIFA já fez e constatou que grama sintética causa menos lesão do que a grama natural” – afirma o CEO.

Alessandro também destaca a tecnologia de ponta empregada em gramados como o do Allianz Parque, palco de inúmeros jogos e eventos ao longo do ano.

“Em tecnologia atualmente, não existe nada mais avançado do que o Allianz Parque. Não só no quesito gramado para futebol, mas também para suportar shows e eventos. Desde 2020, quando a grama foi instalada, já foram realizados mais de 300 shows e eventos. A grama do Allianz foi vistoriada e aprovada por laboratório homologado pela FIFA recentemente. Foi a sexta aprovação do gramado, além disso, periodicamente são feitas manutenções para cuidar do visual e da performance do gramado.” – declarou Alessandro.

Apesar dos argumentos técnicos e da aprovação da FIFA, a adaptação ao gramado sintético traz desafios para os jogadores. O goleiro André Luiz, 25 anos, atualmente no Boavista, já jogou em gramados sintéticos, como o do Nilton Santos, e aponta diferenças significativas na dinâmica do jogo.

“A diferença da velocidade da bola é o que a gente mais nota quando joga no sintético. Logo nos primeiros toques a gente já sente a diferença. O gramado sintético do Nilton Santos é de muita qualidade, mas na comparação com um gramado natural, ele é mais duro. A gente acaba sentindo uma instabilidade por conta das travas das chuteiras não terem tanta aderência como na grama natural, o que acaba gerando alguns escorregões e deslizes”, relata o atleta.

A preocupação com a integridade física é um ponto central no debate. É comum ver jogadores declarando que não se sentem tão seguros ao jogar no gramado sintético. Alguns times chegam a poupar jogadores quando jogam no gramado artificial. O goleiro André comentou sobre como se sente ao jogar no sintético.

“Durante o jogo a gente nunca pensa em lesão, mas sabemos que por estar em um gramado diferente, estamos um pouco mais propensos a ter uma lesão. Com certeza me sinto mais seguro e confortável jogando no gramado natural. Com o jogo mais acelerado e o atleta mais instável, a chance de lesão aumenta. Mas esse medo da lesão também existe quando jogamos em um gramado natural ruim, irregular”, pondera André Luiz, mostrando que a qualidade do piso, seja ele natural ou sintético, é crucial.

A insatisfação com a crescente adoção da grama sintética chegou a um ponto de manifestação formal por parte de alguns dos nomes mais importantes do futebol brasileiro. Em um comunicado conjunto divulgado recentemente, jogadores da Série A, incluindo estrelas como Thiago Silva, Neymar e Lucas Moura, expressaram forte oposição à tendência.

“Preocupante ver o rumo que o futebol brasileiro está tomando. É um absurdo a gente ter que discutir gramado sintético em nossos campos. Objetivamente, com tamanho e representatividade que tem o nosso futebol, isso não deveria nem ser uma opção. A solução para um gramado ruim é fazer um gramado bom, simples assim. Nas ligas mais respeitadas do mundo os jogadores são ouvidos e investimentos são feitos para assegurar a qualidade do gramado nos estádios. Trata-se de oferecer qualidade para quem joga e assiste.

O manifesto que contou com grandes nomes do futebol brasileiro

Se o Brasil deseja definitivamente estar inserido como protagonista no mercado do futebol mundial, a primeira medida deveria ser exigir qualidade do piso que os atletas jogam e treinam. FUTEBOL PROFISSIONAL NÃO SE JOGA EM GRAMADO SINTÉTICO!” diz o contundente comunicado dos atletas.

Estádios importantes no cenário do futebol brasileiro adotaram o gramado sintético, como: Allianz Parque, Arena MRV, Ligga Arena, Arena Condá, Arena Mercado Livre Pacaembu, Arena Barueri e Nilton Santos. A utilização de gramado artificial não é uma discussão restrita ao Brasil.

Diversos países debatem o assunto, e é natural que com o aumento de estádios que adotam o piso sintético, o debate também cresça. Em março deste ano, Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, revelou que pretende entregar um estudo sobre a quantidade de lesões em gramados sintéticos e naturais para auxiliar no debate.

Foto de capa: Pexels

Reportagem de Wilson Fort, com edição de texto de João Gabriel Lopes

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