Atualmente no estado do Rio de Janeiro, é possível observar um aumento na eleição de candidatos da direita e centro-direita. Em outubro de 2024, com o fim das eleições municipais, dos 30 municípios que compõem a região metropolitana, 24 elegeram prefeitos da direita e centro direita. Apenas 4 cidades escolheram representantes de esquerda, 1 elegeu candidato de centro e em Itaguaí o resultado aguarda decisão da justiça.
O partido Progressistas foi o que mais elegeu candidatos, com sete prefeituras. O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, ficou em segundo lugar, com seis candidatos eleitos, todos no primeiro turno. A agremiação foi seguida pelo UNIÃO, com cinco. MDB e REPUBLICANOS elegeram dois candidatos e AGIR e PSD conseguiram ganhar em uma cidade, cada. Os único partido de esquerda ou centro-esquerda foram o PT, com três prefeitos eleitos e o PDT, que conquistou uma vitória.
O Brasil em sua maioria foi governado por presidentes de direita, mas sempre teve um meio termo entre os dois espectros políticos. Após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, e com a eleição de Jair Bolsonaro (PL), em 2019, a direita cresceu bastante, principalmente alinhada com o centro. Essa crescente vem ocorrendo no mundo todo e entender como pensam os eleitores desse grupo é algo muito importante.

(Fotos: Tomaz Silva/Agência Brasil, Bruno Spada e Mário Agra/Câmara dos Deputados e Divulgação/Alerj)
O cientista político Davi Carvalho, 43, graduado em ciências sociais pela Unicamp, mestre em sociologia pela Unesp e doutorando em ciência política na Unicamp, entende que hoje em dia grande parte do eleitorado não considera as propostas concretas dos candidatos e sim se possuem valores e ideais em comum.
“O eleitor de direita gosta do político que critica e diz que vai combater a esquerda. É uma motivação negativa, mas muito importante para eles. Além disso, esperam ver a defesa de valores da família, da propriedade privada e, para boa parte desse eleitorado, também é importante que o político de direita fale de Deus”, completa Davi.
Os eleitores de direita tendem a votar pelo conservadorismo, muito alinhado as questões religiosas e de família, porém alguns tem uma preocupação com a liberdade econômica. Eduardo Moraes, 35 anos, formado em economia e sócio de uma empresa de contabilidade, diz que se identifica com a direita principalmente pelos valores de liberdade, responsabilidade individual e preservação das tradições.
“Acredito que, para termos um país próspero, é necessário que o governo promova o empreendedorismo e deixe o setor privado crescer sem tantas intervenções. Além disso, como cristão, valorizo princípios que acho fundamentais, como a defesa da família e da liberdade de crença. Para mim, a direita tende a proteger esses valores”, afirma Eduardo.
Ao ser perguntado sobre a crescente da direita no Brasil, Eduardo conta que a antiga direita não deu certo e foi necessária uma renovação. “As pessoas estão cansadas da velha política, candidatos de direita que são mais corruptos que os de esquerda, e Bolsonaro veio pra mudar isso, com novas ideias e novas pessoas”, afirmou ele.
O cientista político Davi entende que a direita dita tradicional perdeu terreno, pois o eleitor sente que suas propostas não resolveram os principais problemas da população e passa a preferir candidatos da nova direita, mais extremistas. Para os eleitores se identificam com o comportamento dos políticos de extrema direita.
“Parte do eleitorado simplesmente se reconhece nas propostas e no comportamento da extrema direita, porque sempre foram assim, mas havia certa vergonha em admitir publicamente. Com a chegada ao poder de um deles, Bolsonaro na presidência da República, no caso, sentiram-se bem mais à vontade para defender abertamente suas ideias e para apoiar políticos extremistas”, analisa Davi.
Nikolas Ferreiras (PL-MG), Deputado Federal por Minas Gerais, foi o mais votado do país em 2022. Ele é um dos maiores símbolos da nova direita e conquistou um grande público mais jovem. Já como Deputado, foi condenado, em 2023, por crime de transfobia, ao insultar a Deputada Duda Salabert (PDT-MG).

Algo muito defendido pelos políticos de direita é a liberdade de expressão e o combate ao “politicamente correto”. No entanto, muitas vezes essa liberdade se resuma a propagação de fake news e palavras ofensivas. Esse foi o caso de Rodrigo Amorim (UNIÃO), que tentou ser prefeito da cidade do Rio de Janeiro em 2024.
O candidato, que também é Deputado Estadual, teve a candidatura indeferida pela condenação, em maio deste ano, pelo crime de violência política e de gênero. Em 2022, o Deputado proferiu palavras ofensivas a vereadora de Niterói, Benny Briolly (PSOL), que é transexual, chamando-a de “aberração da natureza”.
Esse extremismo de alguns políticos, de uma certa forma conquista os eleitores que se identificam e enxergam alguém no poder que pensa igual a eles. O Policial Militar aposentado, *Carlos Magalhães, 55 anos, explica que cada um tem sua maneira de pensar e deve ter o direito de expressar suas ideias, independentemente de quais sejam. O cientista político Davi, explica que grande parte dos eleitores realmente se sentem representados por essa postura combativa ao “politicamente correto”.
“Ao longo das últimas décadas, de certa forma, foi uma vitória da esquerda impregnar a sociedade com a ideia de que algumas coisas, consideradas absurdas, não devam ser ditas ou defendidas. E então, políticos extremistas surgem rasgando essa perspectiva completamente. Trump, nos EUA, e Bolsonaro, no Brasil, são os melhores exemplos mundiais disso”, exemplifica o pesquisador.
Um tópico muito discutido entre eleitores da direita é a questão da segurança. Cristina de Souza, 60, aposentada, explica que se identifica com a direita por ser cristã e ter princípios, e completa dizendo que a esquerda acabou com a segurança pública. Ela defende que a direita é a favor de criminosos presos e tem propostas melhores para acabar com a criminalização.
“Gosto de candidatos que prometem uma postura dura contra o crime e que entendem que a sociedade precisa de hierarquia e respeito às instituições”, afirma Cristina.
No entendimento de Davi, essas pessoas tendem a votar nos políticos de direita porque eles são os que mais abordam o tópico, principalmente de uma perspectiva reducionista. “Em geral, a “solução” defendida por políticos de direita é mais repressão e penas mais duras. Há um enorme debate acadêmico sobre a insuficiência de tais medidas, mas o eleitor se vê representado e apoia tais políticos”, completa Davi.

(Foto: Reprodução/Twitter)
Um fenômeno que vem crescendo, não só no Brasil, é a propaganda política por meio de redes sociais. Muitos políticos que eram desconhecidos, passaram a ter grandes números devido ao seu papel ativo em seus perfis.
O Problema tem sido a falta de fiscalização, as redes são amplamente dominadas pela extrema direita e muitas vezes acabam sendo usadas para propagar fake news. Pablo Marçal (PRTB), é um grande exemplo: era um coach e palestrante com alguns seguidores. Decidiu se candidatar a prefeitura de São Paulo e a sua principal campanha foi nas redes sociais, onde passou a ser conhecido no país todo, alcançando o terceiro lugar na disputa pela prefeitura.
“Muitos desses políticos de direita eram, até poucos anos atrás, ilustres desconhecidos do grande público. Hoje, poucos são os que não os conhecem, como Pablo Marçal. A extrema direita dominou o uso das redes a seu favor e tem uma presença muito superior à da esquerda nelas. O impacto disso na decisão dos eleitores é enorme, pois a maioria está nas redes e por elas se informa no dia a dia. A mídia tradicional perdeu muito de sua força, e com isso temos enorme dificuldade em distinguir a verdade do que é falso”, afirma Davi.
Essa presença marcante nas redes tem se mostrado uma estratégia bem-sucedida, com a extrema direita usando a internet para alcançar novos públicos e influenciar o debate, mesmo que seja umas das principais disseminadoras de fake news e teorias conspiratórias. É notório que os eleitores se sentem muito mais representados por esses candidatos e por seus discursos, fazendo com que a esquerda e os outros grupos políticos precisem se atualizar para conquistar mais votos e se manter influente.
*O entrevistado Carlos Magalhães pediu para não ter sua identidade revelada e foi usado pseudônimo.
Foto de capa: Reprodução/Redes Sociais
Reportagem de Pedro Freitas, com edição de texto de Gabriel Ribeiro
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