Nesta terça-feira (5), milhões de cidadãos estadunidenses foram às urnas para eleger, entre outros cargos, o próximo presidente do país. Mesmo que o voto não seja obrigatório e que mais de 70 milhões de eleitores já tivessem votado de maneira antecipada, é só depois do dia oficial do pleito que um candidato pode ser consagrado. Por mais que a eleição só afete diretamente os Estados Unidos, de forma indireta todos os países podem ser impactados por decisões do próximo líder da maior potência do planeta.
Com um cenário extremamente apertado, as pesquisas indicam que a diferença de votos entre Donald Trump, candidato republicano, e Kamala Harris, candidata democrata, será muito pequena. Na última sexta-feira (1), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse, em entrevista ao canal francês TF1+, que torce para que Harris vença. “Eu acho que Kamala Harris, ganhando as eleições, é muito mais seguro de a gente fortalecer a democracia nos Estados Unidos…”, comentou o presidente.
No Brasil, os debates acerca da corrida presidencial norte-americana tomaram conta das redes sociais e de todo o noticiário. Um dos maiores questionamentos feitos nas mídias digitais é sobre a proporção da eleição e quais impactos ela pode gerar para o Brasil. Para Lucas Leite, doutor e professor de relações internacionais da FAAP, essa atenção não é exagerada. Os Estados Unidos ainda controlam as principais rotas marítimas comerciais, têm a moeda de reserva global e possuem uma capacidade militar incomparável.
“Quando o país realiza suas eleições, não está apenas escolhendo um líder doméstico, mas alguém que terá poder de decisão sobre questões que afetam desde o preço do petróleo até a estabilidade financeira global. É uma eleição com consequências planetárias”, analisa o professor.

O resultado da eleição pode afetar vários países, de diferentes formas. Em um curto prazo, o impacto pode acontecer nos mercados financeiros, já que o real tende a reagir conforme a perspectiva da política monetária americana. No entanto, as principais consequências devem ser observadas nas políticas comerciais. Lucas Leite reforça que o Brasil é um parceiro comercial relevante para os EUA e que qualquer mudança na política de tarifas e acordos comerciais afeta diretamente os exportadores brasileiros.
“O Brasil tem interesses estratégicos em jogo: primeiro, nossa posição como fornecedor de commodities agrícolas e minerais para o mercado americano. Segundo, a atração de investimentos diretos em setores críticos como infraestrutura e tecnologia. Dependendo do resultado, podemos ver uma aceleração ou desaceleração desses fluxos”, afirma Lucas Leite.
Os Estados Unidos são um dos principais investidores do Brasil. A relação entre os países é fundamentalmente estruturada em três pilares estratégicos: comércio bilateral, investimentos diretos e cooperação tecnológica-militar. Historicamente o partido Republicano tende a apoiar iniciativas multilaterais de comércio, o que pode beneficiar as exportações brasileiras. Já os democratas costumam impor condicionantes ambientais e trabalhistas mais rigorosos nos acordos.
“Temos pontos de complementaridade econômica significativos. O Brasil é um fornecedor estratégico de minerais críticos para a indústria americana, temos uma base industrial que pode se integrar às cadeias produtivas dos EUA e somos um mercado consumidor relevante para produtos americanos de alto valor agregado”, avalia o doutor em relações nacionais.

O professor ainda destaca que o governo de Joe Biden trouxe uma previsibilidade institucional que favorece o planejamento das relações bilaterais. Nos últimos quatro anos foi possível estabelecer um maior diálogo em relação a cooperação ambiental, investimentos em energia limpa, parcerias educacionais e científicas. “Prevaleceu um relacionamento que solidificou mecanismos institucionais e interesses estratégicos mútuos, o que, do ponto de vista diplomático, tende a ser mais produtivo para ambos os países”, conclui Lucas Leite.
Com o fim do pleito, a apuração dos votos já está em andamento. Como cada estado possui uma regra própria em relação a organização e contagem dos votos, não é possível saber exatamente quando o resultado estará disponível. Com a regra de votação indireta, através dos delegados do colégio eleitoral, quem chegar ao número mágico de 270 delegados vai governar o país pelos próximos quatro anos.
Foto de Capa: Pexels
Reportagem de Gabriel Ribeiro
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