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[Flup 2024] Homenageando Beatriz Nascimento, festa terá mais de 90% da programação composta por mulheres negras

Com presença de nomes como Conceição Evaristo e Elisa Lucinda, edição deste ano referencia figura essencial em discussões raciais e de gênero

A 14ª edição da Festa Literária das Periferias (Flup), agora reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Rio de Janeiro, acontecerá de 11 a 17 de novembro de 2024 no Circo Voador, na Lapa. O evento, consolidado como um marco cultural, mantém seu compromisso de levar literatura e artes a territórios historicamente marginalizados. Este ano, mais de 90% da programação será composta por mulheres negras. A agenda inclui debates com autores nacionais e internacionais, oficinas, apresentações musicais, saraus, lançamentos de livros e performances artísticas, reforçando o caráter inclusivo e plural da Flup.

A Flup traz a proposta de fortalecer o debate público relacionadas às questões principais das periferias, tanto brasileiras, quanto do mundo. O assunto, que está inerente ao Fórum do G20, evento global que será sediado também no Rio de Janeiro em 2024, terá representantes de comunidades e organizações ligadas às pautas étnicas, raciais, climáticas e de gênero.

Homenagem

Neste ano, a Flup presta homenagem a Beatriz Nascimento (1942-1995), uma historiadora, cineasta e poeta que a obra ultrapassou os limites da academia para abordar com profundidade temas como feminismo, racismo e a luta pelos direitos dos quilombolas. Uma referência na resistência cultural negra, Beatriz Nascimento será o centro de uma mesa de debate que contará com grandes presenças, como a escritora Conceição Evaristo e a filósofa Helena Theodoro. O encontro sugere ser um dos momentos mais marcantes do evento, oferecendo reflexões sobre as causas que Beatriz defendeu.

Uma das intelectuais mais importantes do país, Beatriz Nascimento entrou para o Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria em 2023. (Foto: Arquivo Nacional)

Nascida em Aracaju (SE), Beatriz Nascimento mudou-se para o Rio de Janeiro com seus pais e irmãos em 1949. Em 1968, ingressou no curso de História na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e concluiu a graduação aos 29 anos. Depois, especializou-se em História do Brasil na Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, colaborou na fundação do Grupo de Trabalho André Rebouças e do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN), fortalecendo sua atuação na valorização da cultura e identidade negra.

Beatriz foi uma figura essencial nas discussões sobre feminismo, questões raciais e luta quilombola. Em 1986, recebeu o título de Mulher do Ano pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), criado pela Lei Federal 7.353/1985. Sua contribuição também se destaca no cinema: ela fez parte da equipe que lançou o filme “Ôrí” (1989), dirigido por Raquel Gerber, obra que explora o movimento negro, baseada em sua pesquisa, e na qual Beatriz atua como narradora.

Programação

Nesta edição, o festival reunirá nomes consagrados e novos talentos da poesia negra brasileira no Sarau Beatriz Nascimento, que acontecerá ao longo dos sete dias de evento. Mais de 30 poetas declamarão obras autorais e textos da homenageada desta edição, promovendo um diálogo literário intergeracional.

A programação inclui mesas literárias de grande relevância. No dia de abertura, 11 de novembro, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, participará do debate O que Queremos para Ontem?, abordando desafios e urgências das pautas raciais. Já no dia 13, a escritora Conceição Evaristo estará à frente da mesa Insiders/Outsiders, refletindo sobre inclusão e pertencimento nas artes e na sociedade.

Dentre os nomes confirmados estão: Esmeralda Ribeiro, pioneira ao lado de Conceição Evaristo, da série “Cadernos Negros”. Além de Elisa Lucinda, atriz e poeta multifacetada. A nova safra de talentos será representada por vozes como Bell Puã, Luna Vitrolira, Xiatitia, Auritha Tabajara, Luiza Romão e Ryane Leão, que conquistam amplo público nas redes sociais e vêm transformando o mercado editorial de poesia no Brasil. O sarau tem como objetivo ser um aquilombamento poético, enfatizando a força e diversidade da literatura produzida por mulheres negras.

A atriz e poeta Elisa Lucinda é uma das atrações da Festa Literária das Periferias 2024 (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Confira a programação completa da Flup 2024 aqui.

A Flup

Com sua equipe de produção formada majoritariamente por profissionais negras, com mulheres em cargos de liderança, a Festa Literária das Periferias acumula prêmios e reconhecimentos importantes. Em 2012, recebeu o prêmio Faz Diferença, concedido pelo jornal O Globo. Em 2016, recebeu o Awards Excellence da London Book Fair e o prêmio Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro.

O festival também se destacou em 2020 ao conquistar o Prêmio Jabuti na categoria “Fomento à Leitura”. Em 2023, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) reconheceu a relevância do evento, declarando a Flup como patrimônio cultural imaterial do estado.

Foto de capa: Arquivo Nacional

Reportagem de Jorge Barbosa

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