Esporte

Retorno de Bernardinho em meio à crise marca o caminho do Brasil para Paris 2024

Seleção Brasileira de Vôlei Masculino chega com um misto de crise e expectativa para a disputa dos Jogos Olímpicos deste ano

Encerrar ciclos em qualquer âmbito da vida nunca é uma tarefa fácil. No esporte, onde a pressão pela perfeição anda lado a lado com os desafios diários de um atleta, um resultado negativo é capaz de gerar uma crise sem precedentes. Na Seleção Brasileira de Vôlei Masculino, a instabilidade não surgiu da noite para o dia, visto que uma série de resultados negativos envolvem a equipe nos últimos anos.

Essas situações culminaram no pedido de demissão do técnico Renan Del Zotto. Com isso, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) agiu rápido e anunciou o retorno de um velho conhecido e vitorioso. Aos 64 anos, Bernardinho, assumiu novamente o comando da seleção após oito anos afastado. Ele atualmente também é técnico do Sesc-Flamengo na superliga feminina.

O jornalista e editor-chefe do portal Web Vôlei Daniel Bortoletto, 44 anos, vê como necessária a contratação do treinador, apesar de alertar para a curta preparação antes dos Jogos Olímpicos. O primeiro desafio será na Liga das Nações de 2024, com inicio no dia 21 de maio. A seleção disputará 12 partidas, podendo chegar a 15 caso avance até a final deste torneio.

“Bernardinho é um cara que conhece a seleção como ninguém. Boa parte da comissão técnica do Renan era dele antes, então ele manteve os laços profissionais com o pessoal. Acho que o Brasil tem muito a ganhar com a volta dele, apesar do pouquíssimo tempo para montar um time para os Jogos Olímpicos” afirma Daniel.

A geração que conquistou a medalha de ouro na Rio 2016 também é pauta da crise atual da seleção, pois muitos atletas dos quais faziam parte daquele time vencedor já se despediram da seleção e outros não são mais convocados. Sendo assim, o vôlei enfrenta o desafio da renovação de um grupo vitorioso, que como em todo esporte, não é uma tarefa fácil.

As sequências de más campanhas em torneios grandes como os Jogos Olímpicos de 2020 em Tóquio; as duas últimas edições da Liga das Nações disputadas em 2022 e 2023; o inédito vice sul-americano para a Argentina, competição pela qual o Brasil tinha vencido todas as edições que havia participado; por fim, a trajetória conturbada no pré-olímpico de 2023 com a classificação para Paris no último jogo do torneio evidenciam o retrospecto recente da equipe.

Apesar disso, a nova turma conta com excelentes nomes como Honorato e Darlan, mas a falta de experiência ainda pesa em momentos difíceis. Dessa forma, Daniel Bortoletto vê uma mescla de gerações como fator necessário e alerta para a recepção que a equipe que conquistou o ouro em Atenas 2004 deu aos jovens que formariam a geração que disputou os Jogos Olímpicos de 2012 e 2016.

“Acho injusto colocar todo o peso na nova equipe, especialmente em um momento de crise. Gerações mudam, níveis de atletas também, mas é necessária uma mescla de qualidade entre experiência e juventude. Não gosto de quebrar gerações por completo, acho que uma precisa ajudar a formação da próxima e assim por diante” conta o jornalista.

O Daniel Bortoletto é formado em Jornalismo pela Pucamp em São Paulo.
(Foto: Reprodução/X)

A expectativa para Paris 2024 ainda é uma incógnita, mesmo com a crise que perpetua há dois anos na seleção. O Brasil ainda tem tradição internacional e talento necessário para uma campanha melhor que as últimas edições de torneios. Uma análise mais clara poderá ser obtida na Liga das Nações, disputada um mês antes das Olimpíadas. Para o torneio, o jornalista acredita que não acontecerão mudanças drásticas e espera uma continuidade do atual trabalho.

“Eu acho difícil fazer uma mudança radical dois meses antes do evento mais importante do vôlei internacional. Acredito que haverá a mescla de gerações, com possibilidade de alguns novos jogadores, mas no fim a continuidade do trabalho”, comenta o editor-chefe do portal Web Vôlei.

Seleção celebra vitória no pré-olímpico.
(Foto: Divulgação/COB)

O futuro da seleção após Paris 2024 é um outro mistério. O Brasil conseguiu com sucesso manter a qualidade de quatro gerações em sequência, desde os anos 1990 até a equipe campeã em 2016. O desafio de não sair da elite do vôlei após 2024 não está apenas nos braços dos novos jogadores. É necessário um trabalho desde a base, formação de atletas, infraestrutura necessária para desenvolver o esporte e ambição da CBV. Bertolotto ainda alerta atenção redobrada ao desenvolvimento desde a infância.

“Antigamente existiam muitas peneiras de vôlei espalhadas pelo Brasil. Hoje, esse nome está drasticamente reduzido. Existem muitas coisas por trás que possam retardar o processo de evolução. Vejo com bons olhos a chegada do Jorge Bichara como novo diretor técnico da CBV. É importantíssima, pois é um cara que conhece como ninguém o esporte nacional“, destaca o profissional de comunicação.

Jorge Bichara passou 17 anos no COB e desde janeiro de 2023 está na direção da CBV.
(Divulgação/COB)

A Seleção estreia na Liga das Nações no dia 21 de maio contra Cuba, no Maracanãzinho. O encerramento será contra a França no dia 23 de junho, já na fase final disputada nas Filipinas. Caso avance para o mata-mata, a estreia nas quartas de final será no dia 27 de junho e uma possível final três dias depois. Enquanto isso, para os Jogos Olímpicos o calendário ainda não foi divulgado.

Foto de capa: Reprodução/CBV

Reportagem de João Gabriel Lopes, com edição de texto de Gustavo Pinheiro

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