Comportamento Crônica

Eu (não) escrevo há tempos

Em sua nova crônica , a repórter Karla Maia retrata seu conflito interno entre ser jornalista e escritora.

Por Karla Maia

A escrita foi meu primeiro amor, e talvez o mais duradouro desde então. Minha história com ela começou numa aula de redação, lá no ensino fundamental, que eu descobri um jeito de colocar para a fora as coisas que sentia e pensava, porque nem todo mundo queria ouvir uma criança tagarela de oito anos que falava o tempo inteiro. Foi a partir dali que eu entendi que se não me ouvissem, poderiam me ler; e quando comecei a ter como principal brincadeira e hobby escrever e inventar histórias.

Infelizmente, relacionamentos esfriam, e sinto que eu e a escrita estamos nesse momento depois de mais de dez anos de idas e vindas. Quase toda semana eu faço alguma matéria aqui no veículo em que esse texto está inserido e adoro escrever elas, mas não são a Karla, ou melhor, só são uma pequena parte dela. A Karla jornalista só está escrevendo isso aqui porque uma menina faladeira e de imaginação fértil existiu primeiro, e por causa dela que escolhi a faculdade, escolhi minha profissão e defini todo o meu futuro. Confesso que é um pouco injusto o quanto estou negligenciando ela ultimamente.

Acho que essa é a razão pela qual decidi que esse seria o assunto dessa crônica, precisava encontrar essa garotinha de novo. Eu escrevo com amor, todas as minhas matérias tem muita dedicação e paixão, mas é paixão pelo jornalismo e por contar histórias, não é o mesmo sentimento de criar seu própria narrativa e a possibilidade que se pode fazer qualquer coisa a partir disso.

Sinto falta dos meus universos fictícios, das aventuras que vivi e queria viver e do jeito coloco um pouco da minha personalidade em todos meus personagens; da época que tinha tempo e escrevia sem compromisso, apenas porque era legal. Saudades quando descobri o universo das fanfics e sempre tentava escrever uma quando me tornava fã de algum artista; ou quando me sentia inspirada a escrever uma história original quando lia um livro incrível e acreditava que eu seria a próxima Meg Cabot.

A vida adulta, os estudos e, porque não, o próprio jornalismo têm me distanciando das minhas histórias. Tenho algumas paradas no rascunho sem final. Um fato interessante para adicionar aqui: nunca terminei nenhuma livro, fanfic ou qualquer narrativa que já tenha começado. Talvez porque minha ansiedade não deixava ou porque é algo que demanda tempo e refinamento, totalmente ao contrário da rotina frenética de um jornalista. Na verdade, eu sempre fui meio frenética.

Eu não posso culpar o jornalismo, ele não tem culpa. Ele só é uma desculpa para não encarar que eu sou uma escritora, mas isso também não significa nada, porque nasci escritora e vou morrer sendo escritora, até quando cansar de escrever matérias, de ser jornalista, de fazer isso o que faço, até se nunca conseguir terminar uma história. A escrita nunca vai me abandonar, porque primeiro amor é coisa que não se esquece. 

Foto de capa: Pexels

Crônica de Karla Maia, com edição de texto de João Agner

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2 comentários em “Eu (não) escrevo há tempos

  1. Avatar de Mariana

    Mocinha querida, sou sua fã e fã de seus escritos.

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