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Fases distintas simbolizaram a economia do Brasil nos últimos 20 anos

Veja os principais acontecimentos que marcaram a economia brasileira nessas duas décadas de existência da Agência UVA

A economia desde sempre foi um processo variável, especialmente por ter a influência de contextos sociais e políticos. Ao longo de seus 20 anos de existência, a Agência UVA pôde cobrir diversos acontecimentos históricos que intercalam esses cenários  como a alternância de governos, crises financeiras, guerras e até uma pandemia.

Eventos distintos marcaram as últimas duas décadas da trajetória econômica do Brasil e do mundo. Segundo Durval Meirelles, professor de Gestão e Economia da Universidade Veiga de Almeida e doutor em Ciências Sociais, as questões geopolíticas e as inovações tecnológicas foram os contratempos com maior destaque.

“Vimos alguns desafios como a transformação da China em uma potência, a guerra da Rússia contra a Ucrânia e o desemprego estrutural onde governos e empresas estão capacitando mais pessoas para lidar com a mudança do mundo analógico para o digital”, comentou o docente.

Em celebração ao seu vigésimo aniversário, a Agência UVA preparou um panorama que retrata os principais episódios que ocorreram no cenário econômico brasileiro e mundial desde 2003.

Anos 2000 e o crescimento econômico 

As especulações divergentes do mercado destacaram o início de 2003 com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da república. O político que anteriormente havia sido derrotado em três corridas eleitorais ao Palácio do Planalto era conhecido por posicionamentos mais voltados à classe trabalhadora. Por outro lado, em sua primeira campanha vitoriosa mudou o tom se aliando a representantes de diferentes campos ideológicos e realizou a Carta ao Povo Brasileiro, texto no qual assegurava respeitar os contratos nacionais e internacionais do país dando continuidade às políticas econômicas de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Tal qual Fernando Henrique Cardoso, o seu antecessor no cargo, Lula completou dois mandatos consecutivos como presidente.
(Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

No ano em que o novo governo começou, o país registrou um Produto Interno Bruto (PIB) de R$1,556 trilhão, realizando um crescimento de 1,14% no índice em relação à 2002. A taxa de desemprego atingiu 12,3% da população e a inflação anual acumulada, indicador que afeta o poder de compra do brasileiro, chegou a marcar 9,30% de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O dólar comercial ainda encerrou o primeiro ano cotado a R$2,90 segundo o Banco Central do Brasil. 

No decorrer do restante da primeira década do século XXI pôde-se notar o significativo crescimento econômico brasileiro. A redistribuição de renda foi o destaque mais notável. A ascensão das camadas mais desfavorecidas da população foi promovida pela realização de programas sociais, como o Bolsa Família, em conjunto com a expansão do crédito, o incremento no número de empregos formais e a ampliação do salário mínimo, cujo aumento foi de R$ 200,00 em 2002 para R$510,00 em 2010.

A cédula de R$1,00 deixou de circular no ano de 2005 e desde então passou a ser fabricada como moeda.
(Foto: Reprodução/Agência Brasil)

Outro acontecimento que garantiu o bom fluxo da economia nesse período foi o boom das commodities, momento no qual ocorreu uma considerável alta dos preços de vasta quantidade de matérias primas como produtos agrícolas, minerais, energéticos, florestais, químicos e de metais preciosos. Com isso, embora o mundo sentisse os impactos causados pela crise financeira de 2008, houve o aproveitamento da elevação de demanda e as exportações para países emergentes, sobretudo a China, atingiram mais de 500% entre 2005 e 2011.

Após ser causado pela quebra do banco Lehman Brothers, o colapso financeiro atingiu a economia norte-americana e, consequentemente, tornou-se um entrave global. Com essa circunstância, famílias, empresas e empregos ao redor do mundo foram acometidos. Na época, o então presidente Lula (PT) chegou a minimizar os efeitos da crise.

“Lá ela é um tsunami. Aqui ela vai chegar uma marolinha, que não dá nem para esquiar”, comentou o chefe do poder executivo em outubro de 2008.

Segundo dados do IBGE, o PIB, cujo representa a soma de todas as riquezas de um país, da primeira década deste milênio teve um crescimento médio anual de 4,0%, alcançando 7,5% de aumento em 2010 por causa da marca de produção de R$3,675 trilhões. No fim do ano citado, o Brasil ainda registrou a taxa de desemprego compreendendo 6,7% da população e a inflação anual acumulada em 5,91%. Conforme o Banco Central do Brasil, a cotação do dólar comercial estava a R$1,66.

Década de 2010 e a recessão econômica

O país iniciou a segunda década do século sob a chegada do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A primeira mulher a ser chefe do poder executivo no Brasil teve problemas em sua gestão, visto que, o pacote de medidas conhecido como “nova matriz econômica” desencadeou uma crise de sustentabilidade fiscal, que por sua vez, se intensificou e reduziu o consumo e os investimentos entre os anos de 2015 e 2016. 

Além disso, um fator externo foi o fim do ciclo de alta dos preços das commodities, visto que o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou que os valores desse conjunto de produtos haviam registrado uma queda acumulada de 29,3%, só entre junho e dezembro de 2014. A tendência de desvalorização foi longa ao ponto de só ser pausada no primeiro mês de 2016 e teve como consequência a diminuição da entrada de capital estrangeiro nos recursos brasileiros. Por outro lado, o país conseguiu sair do Mapa da Fome segundo o relatório global da Organização das Nações Unidas (ONU). 

De acordo com dados do IBGE, o PIB em 2015 foi de R$5,9 trilhões e teve uma redução de 3,8%, a pior queda em 25 anos. O índice também representou baixa no ano seguinte ao registrar R$6,267 trilhões, sendo desta forma um recuo de 3,6%. Esses números demonstravam a maior recessão desde 1947. Ao final deste biênio, a taxa de desemprego era de 12%, ou seja, compreendia 12,3 milhões de pessoas desocupadas. A inflação anual acumulada era de 6,29% e o câmbio do dólar comercial estava a R$3,25 com o salário mínimo de R$880,00.

As capas da revista The Economist retrataram as diferentes fases do país. Em 2009, “O Brasil decola”. Em 2013, “O Brasil estragou tudo?”. Em 2016, “A traição do Brasil”.
(Foto: Reprodução/The Economist)

Para Durval Meirelles, os efeitos sentidos naquele contexto fazem parte dos reflexos tardios da crise financeira de 2008 que haviam sido adiados pelas políticas econômicas adotadas logo após o colapso mundial.

“Houve uma queda da taxa de juros para estimular o crédito e o consumo. Inclusive, o governo reduziu impostos, aumentou os gastos, expandiu muito o crédito, fomentou o comércio internacional, entre outras medidas, para diminuir as consequências da crise mundial. O que levou depois a uma grande crise com o segundo mandato da ex-presidente Dilma”, destacou o professor.

Ainda segundo ele, essa crise foi responsável pelo processo de endividamento de tantas pessoas que até hoje em dia programas sociais são criados para controlar a situação, como por exemplo, o mais recente, “Desenrola Brasil”.

“A partir de 2008 tentaram fomentar o crédito, mas como consequências, houve um forte crescimento das pessoas inadimplentes e das empresas. Com a crise de 2008, houve uma recessão mundial que pegou o Brasil e, de fato, teve uma queda do PIB muito grande”, avaliou o também doutor em Ciências Sociais.

Com este cenário, uma crise política também surgiu, resultando em protestos contra a classe política ao redor de todo o país. Dilma foi afastada do cargo por meio de um processo de impeachment. O seu vice, Michel Temer (MDB), assumiu o posto mas também era alvo das manifestações. 

Dilma passou pouco mais de cinco anos na presidência, enquanto Temer ficou no cargo por dois anos e sete meses.
(Foto: Reprodução/Agência Brasil)

Na nova gestão, medidas como privatizações e reformas estruturais, como a reforma trabalhista, foram realizadas. Com a finalidade de conter o déficit público, a Emenda Constitucional do Teto de Gastos, que limitava os gastos públicos por 20 anos, foi aprovada. A inflação também foi controlada, o que permitiu que o Banco Central diminuísse as taxas de juros de forma gradual. Em contrapartida, a recuperação econômica foi lenta e desigual.

Década de 2020 e os efeitos da pandemia de COVID-19

Após a chegada de Jair Bolsonaro (PL) à presidência da república em 2019, as expectativas do mercado eram de uma liberalização da economia. Enquanto candidato, foram feitas promessas como privatizações e extinção de estatais, diminuição do preço do gás com seriedade, redução da carga tributária, reforma administrativa com foco na redução de gastos, além de agilidade na abertura e fechamento de empresas.

Contudo, no primeiro trimestre de 2020 a pandemia de covid-19, considerada por especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) como a crise sanitária mais grave da história do país, se espalhou pelo mundo. Até o início de outubro de 2023, foram registrados, mais de 704 mil mortes e 37 milhões de casos no país, de acordo com o Ministério da Saúde.

Ao longo dos anos de 2020 e 2021, em virtude do confinamento domiciliar com a finalidade de evitar aglomerações para conter a disseminação do vírus, setores como turismo, hotelaria, restaurantes, shoppings e eventos foram diretamente afetados.

Para Durval Meirelles, as adversidades externas como a situação que foi imposta pelo novo coronavírus ou, até mesmo, as decisões políticas e militares como a existência de conflitos armados frequentemente geram consequências no cenário econômico global.

“Crises sempre afetam o mundo real. Normalmente há quebra de instituições financeiras, redução do crédito, elevação da taxa de juros, queda de investimentos, desvalorização de ativos e crescimento do desemprego. Ainda pode surgir uma desaceleração ou contração da economia, além do aumento da inadimplência e o abalo da confiança do consumidor”, explicou o professor.

Esse período marcou ainda outra recessão econômica com o endividamento de empresas, a reformulação do trabalho implicando em demandas por tecnologias e infraestrutura de comunicação, aumento do desemprego atingindo uma taxa de 13,5%, desvalorização do real com o câmbio do dólar comercial chegando a ultrapassar R$5,80, entre outros acontecimentos. Além disso, a maior redução da história do PIB foi registrada. Segundo o IBGE, foram produzidos R$7,4 trilhões, o que representou uma queda de 4,1%. 

Mesmo com esses fatores, inovações como o PIX, mecanismo de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central, e o lançamento da cédula de 200 reais aconteceram durante este ciclo. Todavia, para Durval Meirelles, essas medidas estavam parcialmente distantes do processo de desenvolvimento do país.

“Evidentemente que para se desenvolver o Brasil tem que investir numa infraestrutura física com a melhoria de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. Também deve se dedicar numa infraestrutura tecnológica incluindo fomento às startups e aos ecossistemas inovadores”, ponderou o docente.

A cédula de 200 reais é a de maior valor da moeda e foi lançada em 2 de setembro de 2020.
(Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Na época destacada, também houve a alta dos preços de itens básicos. No caso do arroz, um pacote de cinco quilos chegou a passar dos R$40,00. Em relação ao gás de cozinha, um botijão de 13kg alcançou a marca dos R$150,00. Por outro lado, a gasolina estabeleceu recordes nos dois extremos registrando um custo de R$3,82 (menor preço da história) e de R$6,74 (maior valor da história), com cerca de um ano e seis meses de intervalo.

No ano subsequente, foi divulgado o pior cenário nacional em termos de indivíduos em situação de insegurança alimentar. Segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), 33 milhões de brasileiros passavam fome e, ao todo, 125 milhões viviam em condições de carência alimentar. Em razão disso, o país retornou ao Mapa da Fome da ONU.

Ainda neste período, depois do auge da pandemia, o PIB fechou 2022 com um crescimento de 2,9% ao totalizar R$9,9 trilhões, conforme o IBGE. O desemprego, por sua vez, atingiu média de 9,3%. Por fim, de acordo com o Banco Central, o dólar comercial estava a R$5,22.

Bolsonaro venceu a disputa pela presidência em 2018, mas quatro anos depois quando tentou a reeleição ao cargo foi derrotado por Lula.
(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Com esses dados, Lula (PT) retornou à presidência da república em janeiro de 2023, com a missão de conduzir a recuperação econômica e desenvolver o país durante os próximos anos. Desde 1º de maio, o salário mínimo voltou a aumentar e vale R$1.320,00. Além disso, medidas como o Arcabouço Fiscal, a iniciativa “Desenrola Brasil” e a reforma tributária estão sendo discutidas, analisadas ou implementadas.

Por fim, Durval Meirelles fez uma análise geral sobre a política econômica brasileira no intervalo entre 2003 e 2023. Confira este conteúdo em áudio logo abaixo.

Foto de capa: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Reportagem de Gustavo Pinheiro, com edição de texto de Gabriel Ribeiro

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5 comentários em “Fases distintas simbolizaram a economia do Brasil nos últimos 20 anos

  1. Avatar de Fellipe

    A matéria é um bom retrato da economia brasileira boa últimos 20 anos.

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  5. Avatar de Natalia Rocon

    Desde o crescimento robusto nos anos 2000, impulsionado por políticas sociais e o boom das commodities, até os desafios econômicos da década de 2010, incluindo a recessão e as consequências da crise financeira global.

    A análise destaca a complexidade dos eventos, como a crise política e econômica durante o governo de Dilma Rousseff, seguida por reformas estruturais no governo de Michel Temer. O impacto da pandemia de COVID-19 na década de 2020 é bem detalhado, evidenciando os desafios econômicos enfrentados pelo país.

    Além disso, a menção de medidas e inovações, como o PIX e a cédula de 200 reais, adiciona uma camada adicional à narrativa. O retorno de Lula à presidência e as iniciativas para estimular a recuperação econômica sinalizam um novo capítulo na história econômica do Brasil.

    O texto fornece um panorama completo, destacando a interconexão de eventos locais e globais que moldaram a trajetória econômica do país, oferecendo uma base sólida para entender os desafios e oportunidades futuras.

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