Londres Fashion Week traz as franjas de volta: saiba como o item surgiu

Terminou, na última terça-feira (19/09), a Londres Fashion Week, um dos eventos de moda mais importantes do mundo, que ocorre duas vezes por ano. A indústria fashionista da capital inglesa é conhecida por sua originalidade e capacidade de unir moda e arte.

Marcas consolidadas como JW Anderson, Burberry, Simone Rocha e ERDEM apresentaram suas criações. Estreantes como SRVC e Holzweiler surpreenderam positivamente. As atemporais franjas apareceram em muitas coleções, apresentadas em contextos diferentes. O desfile da Burberry levou franjas finas clássicas e em tiras grossas às passarelas. Daniel Lee, diretor criativo da marca, optou por vestidos sem silhueta marcada.

As franjas são um marco na moda dos anos 20 e eram consideradas sinônimo de liberdade feminina. O item foi peça fundamental no guarda-roupa das “melindrosas”, mulheres que revolucionaram o comportamento feminino na sociedade. Também denominadas como flappers, eram conhecidas, na década de 1920, por usarem vestidos com franjas, maquiagens marcantes, dirigirem, dançarem e beberem em público.

O grupo transbordava de uma liberdade ainda nunca vista antes entre as mulheres. Para as melindrosas, os vestidos com franjas, que chamavam atenção ao dançarem, eram mais atraentes do que os corsets e saias longas da época. Os cabelos, geralmente curtos e hoje conhecidos como corte Chanel. Além disso, utilizavam acessórios como colares de pérolas e se inspiravam no estilo Art Déco.

Segundo Flávio Bragança, Doutor em Museologia e professor de História da Moda, as roupas das melindrosas permitiam maior liberdade para as mulheres, além de serem democráticas. Essa democratização deve-se ao fato de que poderiam ser facilmente reproduzidas por jovens trabalhadoras.

“As roupas das melindrosas sintetizavam toda a energia emancipadora feminina”, conta o professor.

O ideal para o movimento era a androginia, ou seja, roupas que destacassem menos suas curvas. Para isso, usavam corpetes que apertavam os seios e os deixavam menores. Assim, os vestidos de franja costumam ser, até hoje, retos, soltos e sem cintura marcada. O movimento perdeu força após a queda da Bolsa de Nova Iorque em 1929 e os anos de depressão econômica.

A cantora Taylor Swift utilizando de franjas em sua turnê atual. (Foto: Reprodução/Instagram @taylorswift)

As franjas voltaram aos holofotes na década de 70, com o surgimento do movimento hippie. “São contextos diferentes, mas ambos impactantes, porque foram disruptivos e representavam a busca pela liberdade”, explica o professor Flávio Bragança. As melindrosas buscavam o balanço no vestido para dançar Charleston, que fez muito sucesso em Paris. Já as franjas popularizadas pelo movimento hippie, foram uma apropriação dos trajes dos povos nativos norte-americanos.

Gabriela Lira, estilista e fundadora do portal A Historia Da Moda, conta que desde o lançamento da série “Daisy Jones & The Six”, o interesse do público pelos anos 70 aumentou. “No Pinterest Predicts 2023, um relatório anual que o Pinterest faz com tendências que irão fazer sucesso ao longo do ano, as franjas apareceram”, conta a pesquisadora de moda.

Ao avançar para os dias atuais, o item se destaca pela facilidade de se adaptar a vários estilos diferentes, como o boho, country e o romântico. Com a ascensão das famosas cowboy boots (botas de estilo cowboy), outras peças que seguem a mesma proposta country, também ganharam destaque, como o jeans, o couro e o xadrez. As franjas, atual aposta das semanas de moda, surgem como uma estratégia para adicionar movimento e criatividade aos looks.