No domingo (24), o Festival Literário da Baixada Fluminense (FLIC-BF) recebeu um dos nomes mais importantes da literatura brasileira em seu último dia do festival, a escritora Conceição Evaristo. Autora e ganhadora do prêmio Jabuti em 2015 por “Olhos D’água”, a grande homenageada do evento participou da mesa “A experiência negra como matriz da nossa ficção” no palco principal, chamado de Tia Ciata. Para complementar a discussão, outras três mulheres negras foram convidadas, todas também utilizam da palavra como profissão, meio de luta contra o racismo e afirmação de suas identidades: a escritora Selminha Ray, a deputada estadual Dani Monteiro e a professora e pesquisadora Fernanda Felisberto.

A palestra iniciou com uma festa para Conceição, que entrou com um cortejo feito pelos organizadores do evento ao som de uma música africana e muitas palmas de uma plateia ansiosa e animada com a presença da escritora. A mediadora, Nathalia Rodrigues, professora de geografia, iniciou as perguntas falando sobre um conceito criado por Conceição e utilizado nos seus estudos, chamado de Escrevivência, que também influenciou de alguma maneira as outras três mulheres presentes, como Fernanda.
“É uma apropriação para produzir nossos trabalhos, um facilitador. Pois fomos moldados para um distanciamento crítico da nossa realidade”, apontou a professora.
Segundo a própria Conceição, Escrevivência foi uma ideia que surgiu em sua dissertação de mestrado, em 1994. Inicialmente, ela usava para construir suas narrativas através de suas experiências como mulher negra e não imaginava que ganharia a proporção que tem para o meio acadêmico e literário.
“Toda vez que um texto é atravessado por uma subjetividade, estaremos praticando a escrevivência. Eu já fazia o uso dela antes de teorizar, nossos conceitos são criados da prática”, explica Conceição Evaristo.
A escritora também destacou a importância de espaços como a FLIC para a produção e acesso à cultura para a população negra e periférica.
“Estamos nos apropriando daquilo que temos direito, que é a garantia à literatura, como temos a moradia, o lazer e a saúde. É um direito que temos nos apropriar,” conta.
A deputada Dani Monteiro comentou sobre novos projetos do campo político para o estado do Rio de Janeiro, especificamente em Nilópolis. Seu objetivo é desmistificar a ideia do município como uma “cidade-dormitório”, ou seja, um espaço que só serve de moradia para quem está nela. Da mesma maneira como a FLIC ocorreu, a cidade é capaz de ser uma produtora de cultura potente.
“Queremos construir a primeira semana de arte negra juntamente com a secretária e apoio do movimento social do município. Também visitei a obra do teatro Tim Lopes recentemente, será um equipamento de cultura lindo”, explicou a deputada.
Após o final da palestra, com mais uma longa salva de palmas e festa, Conceição Evaristo desceu do palco e recitou o conto “Olhos D’água” enquanto andava pela plateia, o que emocionou o público presente. Após isso, participou de uma sessão de autógrafos de seus livros, concentrando uma grande fila de pessoas esperando pela assinatura da autora.
Foto de capa: Fernando Rabelo/ Divulgação
Reportagem de Karla Maia, com edição de texto de Jorge Barbosa
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