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Ilustradores debatem o ‘politicamente correto’ no mundo geek

Affonso Solano e Carlos Ruas debateram com o público o limite entre piada e ofensa.

A 18ª edição da Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, aberta desde a última quinta-feira (31), trouxe ao público este ano uma série de debates acerca de assuntos que têm dominado as discussões sociais atualmente. Um exemplo disto foi o painel “Brincando com Deus”, comandado pelo escritor, ilustrador, editor e podcaster Affonso Solano, e que teve como convidado o designer gráfico Carlos Ruas, criador da webcomics de humor “Um Sábado Qualquer” – o qual aborda temas relacionados à Bíblia – e tratou da onda do “politicamente correto” no meio do entretenimento.

Solano explica que a escolha do tema e do convidado é muito pertinente, principalmente nos dias atuais. “Hoje em dia o ‘politicamente correto’ é uma questão e ele [Ruas] é um cara que lida com isso há muito tempo, então eu achei que era a pessoa ideal para estar aqui”. O apresentador dos painéis do espaço Geek & Quadrinhos da Bienal também afirma que os debates acontecerão até o último dia (10 de setembro) e que a ideia é que o público tenha voz. “Temos um espaço com bastante gente e queremos que participem e não fiquem só ouvindo”.

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Affonso Solano e Carlos Ruas, respectivamente.

O primeiro ponto levantado pela dupla foi que, em tempos de redes sociais e da chamada “geração mimimi”, muito do que se publica pode ser considerado uma ofensa ou zombaria para determinado grupo ou camada social. Sobre isso, Ruas – que desenha desde a infância e era o “chargista da escola” – afirma que nunca teve a intenção de ofender ninguém. “O que se ganha ofendendo alguém? Ofensa de volta. O que eu queria era promover uma reflexão por meio do meu trabalho”. O ilustrador ainda conta que uma maneira que encontrou para fazer isso é fazer referências a vários deuses de diversas vertentes religiosas.

Por causa disso, estuda várias religiões – o que, segundo Ruas, sempre gostou de fazer. “Quanto mais você conhece a religião do outro, menos você a sataniza”, ele declarou. Fruto de uma família religiosamente diversa – a mãe e a avó do artista são espíritas, e o pai é ateu e “militante da causa” – e estudante de colégio católico, Ruas também defende que o radicalismo, em qualquer âmbito deve ser evitado. “É o radicalismo que faz você querer queimar ou explodir o amiguinho. E isso não pode”, brincou, levando a plateia às gargalhadas.

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Carlos Ruas interpretando a personagem João Batatista, criada por ele.

No entanto, o designer conta que recebe críticas e comentários desagradáveis em seus trabalhos, mas, ao invés de bater de frente ou ignorar os haters, Ruas preferiu fazer o que faz de melhor: uma tirinha sobre um caso específica que lhe aconteceu em seu antigo blog a “fé cega” que movia os comentários em seu antigo blog. “Eu percebi que o cara que dizia que as pessoas que acessavam o meu blog iam para o inferno era o mais assíduo, então resolvi colocar isso em uma arte”.

Além disso, o ilustrador também afirmou que, apesar de tratar muito sobre religião, ele não tem o intuito de combatê-la. “Eu combato os pastores evangélicos que utilizam a religião para enriquecimento próprio. É um assalto, só que, em vez de uma arma, eles usam uma maquininha [de cartão]”, ironizou. Um exemplo disto, é o personagem João Batatista, pastor da Igreja do Batatismo, uma sátira de pastores evangélicos de “má fé”. Ao explicar sobre a criação desta série de esquetes, Ruas falou sobre a Cientologia, polêmico grupo religioso que tem adeptos famosos como o galã Tom Cruise (“Missão: Impossível”) e a premiada atriz Elizabeth Moss (“The Handmaid’s Tale”). “Um escritor de ficção científica criou a própria versão sobre a Gênesis e resolveu falar que aquilo era verdade e muita gente acredita. É melhor que ‘Star Wars‘”.


Daniel Deroza – 6º período

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