“O samba da minha terra deixa a gente mole, quando se canta todo mundo bole”, já dizia Dorival Caymmi em seus versos. Porém, a terra a qual me refiro não é a Bahia de Caymmi, mas sim o Rio de Janeiro. O carioca é freqüentemente associado ao samba e esse ritmo tão cheio de ginga influencia profundamente na relação que o cidadão do Rio tem com a vida. É possível ver contornos do samba em nossas músicas, em nossa arte, nos desfiles das escolas, nos blocos de rua e até mesmo na batucada tímida dos dedos em uma mesinha de bar. O samba carioca caracteriza tão bem os moradores da cidade que, graças a um trabalho de intensas pesquisas do CCC (Centro Cultural Cartola), foi declarado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), no dia nove de Outubro de 2007, patrimônio cultural do Brasil e teve como base três matrizes: o partido-alto, o samba de terreiro e o samba-enredo, sendo estas gravadas oficialmente no Livro de Registro das Formas de Expressão. O ritmo agora figura ao lado de 11 bens culturais.
Para Milly Silva, secretária do Centro Cultural Cartola, uma das razões que incentivou as pesquisas foi o amor que a Sra. Nilcemar Nogueira, neta de Cartola e diretora de projetos especiais do Centro, nutre pelo samba. “É um amor muito grande e influenciou de tal forma a sua vida e a de tantas outras pessoas que nada mais justo do que ela juntar forças para fazer com que o samba seja sim um patrimônio cultural do nosso país”, explica Milly.
O Centro de referência de pesquisa criado dentro do CCC comprova esta dedicação, ele é considerado o pontão de memória do samba carioca e tem como objetivo o resgate e a documentação do samba, preservando suas referências culturais e suas muitas manifestações: nas rodas de samba, nas quadras das escolas e nos terreiros. O Centro de referência de pesquisa é, portanto, uma maneira de resguardar as matrizes do samba no Rio de Janeiro e de contar seu processo histórico.
“O samba não chegou pronto ao Brasil. Os escravos africanos que desembarcaram em nossas terras trouxeram consigo seus hábitos, costumes e ritmos. Iniciou seu desenvolvimento pouco a pouco no recôncavo baiano, mas foi levado, na segunda metade do século XIX, por migrantes para a capital do Império, o Rio de Janeiro. Com sua chegada, incorporou estilos musicais como a polca, o xote, o maxixe entre outros. Desta forma deu-se origem ao que podemos denominar como samba carioca”, explica o historiador Marcus Cesário.
Sempre existiu uma disputa pela paternidade do samba. Alguns reforçam sua origem baiana, outros sua origem carioca. Mas é uma discussão vã, pois no Brasil o samba existe em diversos Estados e com características regionais próprias. Mas não há como negar a intimidade do carioca com o samba, é uma conexão tão forte que se tornou uma característica do cidadão.
“Se pensarmos no samba como gênero musical, sua criação e desenvolvimento ocorreram de fato na cidade do Rio de Janeiro e por esta razão é tão associado à personalidade e ao carisma do carioca” conclui Marcus.
Valéria Cezario
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