Moda

Slow Fashion combate impactos negativos da indústria da moda

Objetivo dos produtores da "moda lenta" é desacelerar indústria de roupas e criar consciência socioambiental nos consumidores

Por trás de uma peça exposta na vitrine há um método de produção. Este processo, influenciado pela velocidade dos lançamentos das coleções de vestuário, resulta em índices preocupantes sobre a indústria da moda. Diante disso, o conceito de slow fashion se opõe à ideia de fabricação em massa e busca promover consciência socioambiental nos produtores e consumidores.

As preocupações acerca dos impactos ambientais causados pelo setor têxtil são necessárias. A moda não lança apenas tendências, mas também resíduos poluentes na natureza. Globalmente, as indústrias de vestimentas e calçados ultrapassam as de transporte marítimo e aviação, sendo responsáveis por 8% das emissões de gases de efeito estufa, de acordo com dados da ONU Meio Ambiente. Os números não enganam. A moda ocupa o 2° lugar no ranking das indústrias que mais poluem o mundo, atrás apenas do setor de óleo e gás. As indústrias de moda produzem 20 peças de roupa por pessoa a cada ano, segundo o instituto de pesquisas sem fins lucrativos, World Resources Institute. Assim, a produção de novas peças alcança o número de 140 bilhões em doze meses, o que corresponde a 383 milhões de peças produzidas diariamente.

Apesar do slow fashion estar ganhando adeptos, o fast fashion ainda domina o modelo de consumo contemporâneo, caracterizado pela rapidez e por roupas de menor durabilidade, que consequentemente são descartadas em um curto espaço de tempo e exigem grande demanda de matéria-prima. Especialistas da indústria da moda acreditam que essa realidade ainda está longe de ser alterada, como revela o levantamento realizado pelas consultorias Future Impacts e 4CF, que aponta que 75% dos profissionais da área não acredita que seja possível um impacto positivo no meio ambiente, levando em consideração as estratégias da indústria atualmente. O estudo de 2019, encomendado pelo Instituto C&A ainda indica que os outros 25% dos profissionais que acreditam nos avanços de práticas sustentáveis no setor acham que o real impacto só será visto em aproximadamente 21,5 anos.

Embora as pesquisas apontem que os resultados só serão vistos a longo prazo, para que eles sejam vistos no futuro, as mudanças precisam se iniciar desde já. Tal atitude se reflete no trabalho de Tatiana Menezes, que começou a se questionar sobre os processos de produção e qual futuro deixaria para seu filho. A partir de então, resolveu lançar sua própria marca, que caminha na contramão do ritmo desenfreado de consumo. “A Essencialis surgiu em 2014, quando gestava meu filho Miguel. Eu trabalhava com figurino na Globo e sempre pensei nos processos químicos que envolvem uma roupa, principalmente, depois de visitar uma fábrica de jeans. Foi quando surgiu a Essencialis, através de experimentações e observações. A marca é sobre reconexão com os ciclos e ritmos da Terra, sobre nos sentirmos parte disso novamente”, afirma a produtora, que leva em média de 20 a 30 dias para produzir uma única peça.

A preocupação em ter equilíbrio durante a criação das peças também ocorre no processo produtivo da marca Poise, que lança apenas duas coleções anualmente. “Esperamos que tanto consumidores quanto produtores se conscientizem mais sobre os impactos gerados no planeta e que as pessoas parem de consumir de empresas que não se comprometem a fazer um trabalho responsável e sustentável”, relatam Tainá Almeida e Matheus Bruzzi, responsáveis pela parte criativa da marca lançada em 2018. Eles ainda opinam que é preciso “levar informações e conhecimento sobre sustentabilidade a todas as pessoas, para que, assim, com uma cadeia de produção responsável e acessível, seja possível mudar o futuro da indústria da moda”.

Mas para que consciência socioambiental seja uma realidade no mercado, ela precisa ultrapassar o discurso institucional. Para Tatiana Menezes, afirmar ‘ser sustentável’ se tornou um rótulo benéfico para as empresas. “A sustentabilidade virou moda e tendência. Infelizmente, muitas marcas tiram vantagem disso, tendo alguma parte do processo considerado sustentável e se divulgando como totalmente sustentáveis”, lamenta. Ela ainda comenta que os impactos não são apenas sustentáveis, mas também sociais. “Não se trata apenas do meio ambiente, mas da forma como vemos e lidamos com o mundo a nossa volta, de forma respeitosa e amorosa, desde comprar o tecido em lugares que tenham os mesmos princípios a tratar as pessoas envolvidas no processo com dignidade”, reitera a responsável pela marca Essencialis.

Tatiana durante a sessão de fotos da última coleção lançada pela Essencialis
(Foto: Arquivo Pessoal)

Os efeitos negativos para o meio ambiente devem ser combatidos pelos produtores e pelos consumidores finais. Estes também podem contribuir para um ciclo menos poluente na indústria da moda e uma das alternativas para que seja possível colaborar com essa causa é criar um armário cápsula, expressão que designa um armário funcional, com peças alinhadas às necessidades atribuídas pela rotina e aos hábitos dos consumidores. Aderir a esta ideia evita compras por impulso e o pensamento de « não ter o que vestir » ao abrir um guarda-roupa repleto de peças em excesso. Além disso, também causa menos gastos, já que será possível criar composições certeiras. Ter apenas o necessário proporciona praticidade e consciência ambiental.

Júlia Reis – 6º período

2 comentários em “Slow Fashion combate impactos negativos da indústria da moda

  1. Pingback: Gucci cria festival de moda e cinema para apresentar nova coleção | Agência UVA

  2. Pingback: A moda do fast fashion: acessibilidade e meio-ambiente são pauta em novo podcast | Agência UVA

Deixe um comentário